segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

A diocese de Bissau em peregrinação a Cacheu

A nossa diocese organizou mais uma vez a peregrinação anual a Cacheu. O lema para este ano era: "Com Maria contemplamos a misericórdia de Deus". Segundo um jornalista da RDN, mais de três mil pessoas fizeram a deslocação ao santuário de Nossa Senhora da Natividade em Cacheu.
Os três bispos da Guiné marcaram presença juntamente com um bispo brasileiro, presidente da Conferencia episcopal dos bispos da região de Paraná-2. Este ultimo esta' na Guiné para a abertura de uma nova missão em Quebo, no leste do pais.





segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Recém-ordenados reúnem-se em N’Dame


Como de costume, os recém-ordenados reuniram-se em N’Dame nos dias 23-24 de Novembro para o encontro de fim de ano. Trata-se de encontros de formação de dois dias para os jovens sacerdotes (até cinco anos de ordenação).

Participaram oito jovens padres, junto com os Bispos D. Lampra e D. Zilli e os membros da comissão: os Padres Abraão Sambú, Domingos Cá e Celso Corbioli.

O primeiro tema foi o batismo dos adultos, tratado pelo P. Michel de Bajob; em seguida o casamento misto e de disparidade de culto, pelo Fr. Armando Cossá de Cumura, e no dia seguinte os desafios dos modernos meios de comunicação pelo senhor Miguel de Barros. O encontro concluiu-se com uma partilha entre todos os presentes.
             
Foram dois dias muito especiais quer pelos jovens padres que participaram, quer pelos oradores e os temas tratados com competência e vivacidade; um agradecimento particular vai aos dois bispos, D. Pedro e D. Lampra pelas reflexões espirituais e pela ajuda nas várias intervenções. O próximo encontro é previsto pelos dias 29 e 30 de Março de 2017 em Nhabijão.  



quarta-feira, 16 de novembro de 2016

4. UMAS TENTATIVAS DE INCULTURAÇÃO em vias de realização nas comunidades de Suzana



A caminho do sínodo diocesano
p. José Fumagalli

A. Umas realidades antropológicas e teológicas.
B. Os sacramentos:

A. UMAS REALIDADES ANTROPOLÓGICAS E TEOLÓGICAS
(NB. Aconselho uma leitura calma, demorada, com pausas para ajudar a..."digestão". Se difícil
demais, pulem para frente.)
A minha aproximação à cultura felupe, além do que através da convivência cordial com
pessoas que nela nasceram e vivem, vem sobretudo através da familiarização, estudo, pesquisa e reflexão sobre a língua, as palavras e outros fenómenos linguísticos analisados com vista a encontrar caminhos para anunciar o Verbo que se nos revelou.
Não sou linguista e então não pretendi fazer estudo científico. Simplesmente apliquei-me a desmontar e remontar fenómenos linguísticos segundo o método indutivo empírico apontado na primeira parte destas folhas. Uma das primeiras caraterísticas em que deparei foi a riqueza enorme de palavras concretas aplicadas a frutos, animais, enfim a realidades com que o Felupe lida todos os dias e a pobreza de palavras abstratas ou até óbvias, como, por exemplo, as palavras "luz", "justiça", "reino" e outras, que são fundamentais para o anúncio evangélico.
Aos poucos reparei na ductilidade extrema que esta língua tem para exprimir ações e acontecimentos, enriquecendo o significado original duma palavra (conteúdo no RADICAL da mesma) com infixos vários que o mudam e especificam, conseguindo assim exprimir algo que até nunca caiu debaixo da sua experiência.

Um exemplo acima de todos, e vamos ver se consigo fazer-me entender. Será preciso
familiarizar-se um bocadinho com alguma "ferramenta" da língua felup, mas não é difícil. Há um radical RO\ (ronh) que quer dizer "viver". Se lhe aplicar o infixo verbal causativo EN tenho RO\EN = fazer viver. O equivalente criol seria VIVI+ infixo NT =
VIVINTI = fazer viver. Voltamos ao Felup e acrescento mais um infixo, I que dá a voz passiva= RO\ENI= ser feito viver (equivalente criol VIVINTIDO).
A este ponto quero introduzir mais um elemento: o que é que faz viver? através de que,
com o que è que vou fazer viver alguém? Este "com que" "através de que" é expresso
pelo infixo UM, que tem prioridade sobre o do passivo e então o faz recuar duma posição, O que me da: RO\ENI + UM = RO\ENUMI. Há um outro elemento a introduzir para exprimir a novidade de vida que o Espírito Santo nos traz no Batismo, se trata de "ser feito viver de novo", onde este "de novo" tem seu belo sufixo verbal que o exprime, ULANKEN. Vou inserir este também, relegando a I do passivo ao lugar que, nesta língua, lhe compete, o último, e tenho a palavra mágica:
RO\ENUMULANKENI= "ser feito viver de novo através de". Inserindo esta palavra
no contexto do discurso, falando nos que são feitos viver de novo (=renascem) através
da água e do Espírito Santo, direi KARO\ENUMULANKENIM a água (mumel amu) e
o Espírito Santo.
A primeira vez que usei esta expressão, os que me escutavam não estranharam nada.
Quem estranhou fui eu, que perguntei se compreenderam. Claro que sim. "Mas já ouvistes alguma vez esta palavra?" Claro que não, mas era extremamente clara e ma explicaram. Era uma palavra nova, mas perfeitamente Felupe, apesar de introduzir um conceito de que nunca ouviram falar antes, não pertencia a sua cultura. Continuei com mais vontade a pesquisa com o tal meu método. Apareceu-me que a palavra felupe é feita de dois elementos fundamentais, o RADICAL e o PREFIXO. Há um terceiro que aparece como "determinativo".

Um exemplo, para ser mais claro.
AMBAAL AU: MBAAL è o radical, A o prefixo, AU o sufixo (ou artigo) = O PESCADOR
ALÉW AU : LÉW é o radical, A o prefixo, AU o sufixo (ou artigo) = O COZINHEIRO, e
assim por diante. (huLÉWum ahu= pó di buli (criol). Se porém pegar no radical e aplicar outro prefixo, o significado muda, nem que fique dentro da mesma área de significação:
HuMBAALum ahu= a rede da pesca (aquilo "com que" (=UM) se pesca com rede)
eMBAAL ai = a rede que se lança para pescar
jaMBAAL aju= a pesca com rede.
Pelo que, se vê que o radical contêm a ideia, o "conceito" que porém eu só consigo "chamar", fazer existir aplicando um prefixo, que o coloca numa certa categoria de seres existentes:
o agente, pescador, cozinheiro, etc.
o instrumento que serve para "pescar", "cozinhar" etc.
o ato de pescar, cozinhar, etc.
E haveria mais: o lugar da cozinha, o "turno" de serviço na cozinha etc.
Quem é que disse que a abstração é própria da cultura grega e os africanos só têm a
"representação" dum coisa existente? Para os iniciados à filosofia, é lembrar que a
definição de conceito é "representatio rei in intellectum expressa". Como também que
o conceito não existe na realidade, é um "ens" (ente, "matéria" que só é chamado à
existência pela "forma"), exatamente o que acontece com o prefixo felupe que nos diz
como é que o tal conceito (o de pescar) veio a existir, se tornou visível ( no pescador, ou na rede etc.).
Fiquei espantado, mas redobrou a vontade de aplicar estas descobertas a conteúdos do Anúncio cristão.

A.1      1ª TENTATIVA DE INCULTURAÇÃO
.Abordei o livro do Génesis.
- Antes de mais nada a ideia de "criar", quer dizer de fazer existitr o que ainda não existe, sem utilizar nada de pre-existente.
(Ainda para os iniciados à filosofia, a definição de Agostinho diz: "productio rei ex
nihilo sui et subiecti" que daria: trazer algo de novo sem utilizar nada de pre-existente,
nem dele nem da matéria com que è feito.).
Sempre me fez dificuldade, no criol, o "Deus ki "kumpu" seu ku tera: o som da palavra
kumpu evoca à minha mente o "compor", quer dizer juntar mais coisas existentes para obter algo novo. Criar è outra coisa. Em Felupe temos, como já visto antes, o infixo causativo EN que, aplicado ao radical UW, que quer dizer "existir" dá UWEN cujo significado è mesmo "fazer existir algo que não existia", verbo que eu ouvi sempre atribuído a Deus, EMIT AI EWEN: Deus cria, faz passar do não ser ao ser; pensa uma coisa, a diz e ela começa a existir. E o Felupe traduz: EWEN, faz existir, faz passar do não ser ao ser céu, terra, árvores etc.:

Quando chegamos à criação do homem é que aparecem as surpresas. Deus, que sempre até aqui atuou sozinho sempre com os verbos no singular, passa agora a usar o verbo no plural: "Façamos o homem à nossa imagem, à nossa semelhança, para que domine...etc. etc.". Porquê o plural? Conhecemos a resposta pelo próprio catecismo: Porque Deus è Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo. Mas, o que é que isso tem a ver com o homem que não é trindade, mas sim um só? Com certeza é um só? O texto sacro continua;" Deus criou o ser humano à sua imagem, criou-o à imagem de Deus,
Ele os criou homem e mulher". E eis porque o plural: pelo Catecismo sabemos que Deus é um em três pessoas Deus é "plural" (Trindade= Comunidade de três num só = Comunhão), mas, sendo infinito, não pode ser "multíplice": se forem dois, nenhum deles seria infinito, nenhum deles seria Deus. O homem também é "plural", homem e mulher: mas como? O homem não é um como Deus porque Deus è infinito, o homem em vez é finito: começa e acaba e há lugar para outro: então são dois, homem e mulher. Onde foi parar então a tal "semelhança com Deus", que queria criar "o homem" (no singular) e acabou por criar dois, homem e mulher?

O felupe consegue dar a resposta profunda a esta questão. Vamos ver como.
Trata-se sempre do tal jogo dos radicais e infixos: pegamos os que já conhecemos:
MBAAL quer dizer pescar: AMBAAL AU è quem pesca, o pescador, LÈW quer dizer cozinhar: ALÉW AU quem cozinha, o cozinheiro, 'N quer dizer "dizer", AN AU è quem diz, O HOMEM.
Já chegamos. Deus Pai "diz", tem em si o VERBO, o LOGOS, a Palavra, e o exprime, o DIZ, COMUNICA, o que não teria sentido sem um TU que responde: o Pai diz o VERBO no Espirito Santo =Amor, (RELAÇÃO substancial entre os dois) e isso tudo "constitui" o Deus Trindade, que é a comunicação pura e absoluta.
O Homem é "quem diz", tem em si o conceito que quer exprimir e se torna verbo, logos,
palavra que ele DIZ e encontra um "TU" que lhe responde. Em Gén. 2, 18 o texto sacro diz: "Não é conveniente que o homem esteja só, vou dar-lhe um auxiliar semelhante a ele. Então o Senhor Deus, após ter formado da terra todos os animais do campo e todas as aves dos céus, conduziu-os até junto do homem".
Sabemos como correram as coisas: o homem chama o nome de cada um dos animais. Nenhum "responde", nenhum "DIZ". Será preciso criar a mulher. Então O "EU" que DIZ encontra o TU que também DIZ também é AN AU, em Felup, e responde e há comunicação, há vida... e onde a comunicação é plena e envolve totalmente os dois seres, aparece uma nova vida, o filho, a palavra que os dois "conceberam" no seu encontro e a seguir "expressaram". Não há quen não veja a analogia profunda que há com o que acontece no seio da Trindade, nem que se traduza não numa UNIDADE como em Deus que por natureza é infinito (não tem começo nem fim), mas na "MULTIPLICIDADE" dos homens (cada um tem começo e fim). O resultado porém é o mesmo: em Deus há uma RELAÇÃO pura e absoluta que cria uma unidade.
No homem há RELAÇÃO entre dois seres distintos, que porém realizam-se perfeitamente entrando em comunhão, que é "COMUM UNIÃO".
Não é por nada que o "fruto" do sacramento do matrimónio é UM SER NOVO composto pelos dois que, no sacramento, Deus juntou em SI, com o mesmo Amor (o Espírito Santo) que é o "cimento" que une a própria Trindade. Os dois, casando "no Senhor" se "dizem" fidelidade e Deus a realiza através do sacramento. Acho que é mesmo por isso que o casado em Felupe se chama "AJAMOR AU" aquele que "se entendem reciprocamente com outro", realizando e aperfeiçoando no dia a dia aquela relação profunda que os faz ser Homem e Mulher dados um ao outro e dos quais cada um pode dizer: " Eu não seria EU sem TI", (o que em felupe soa "sem TU", também pronome sujeito!) É por isso que o matrimónio não pode ser "dividido" ( "ka ta pajigadu"): mais pelo dom de Deus que corresponde ao vosso ser profundo ("relação", "dizer") do que do vosso próprio esforço e amor humano; contudo Deus o apoia em força do sacramento que se realiza no dia a dia. (O "dia do casamento, como se vê, não é só o dia em que disseram "SIM" nas é também cada um dos dias que a ele seguem-se, tal e qual como para o Batismo). O "medo" de não conseguir "aguentar" a vida toda aparece como algo que não tem sentido. Deve ser por causa desta intuição (o homem "relação" que precisa do outro) que o casamento na tradição felupe apresenta-se muito mais "sério" do que em outros povos cá na Guiné.

Continuando na análise das palavras empregues na vida ordinária, em vista de anunciarmos a mensagem do Evangelho, encontramos a diferença entre homem e mulher. Repare-se bem nas palavras a seguir:
AN YN ÂU o homem: AN quem diz. YN= força, de que se precisa para a luta da vida.
AN ÀR AU a mulher: AN quem DIZ, ÀR= ventre: a função materna. transmetedora da vida. AN ÑÀK AN AU a mulher: AN quem diz. ÑAK encerra, guarda, protege AN homem: sempre a função materna que se prolonga bem além do tempo da gravidez...
Resultado: Paridade absoluta no SER e no se RELACIONAR: AN = quem diz.
Diferenciação nas funções ao serviço à vida: complementaridade.
Teoricamente perfeito. Na prática, historicamente, também entre os Felupes há a
tendência ( e o hábito) de o macho se considerar superior: sem nenhum fundamento
cultural! Pastoralmente falando, não temos a impressão de termos as portas abertas e até escancaradas para "Evangelizar" o matrimónio?
Sem falar na "Preparação tradicional ao matrimónio", que exigiria outro capítulo a parte...

A.2 SEGUNDA TENTATIVA DE INCULTURAÇÃO.
Col. 1, 15- 20 o hino cristológico, com referência particular a 16 e 17: ".. foi nele que
todas as coisas foram criadas... todas as coisas foram criadas para Ele.... e todas elas subsistem nEle"
Em 1986, ao longo do itinerário dos estágios de formação dos catequistas na Diocese e nos Sectores, abordámos a carta de Paulo aos Colossenses, preciosa por fornecer respostas às tentativas daquela comunidade de regressar ao caminho velho ou, pelo menos de assumir elementos dele, numa "aventura" sincretista.
Traduzindo o hino cristológico usei as expressões que aprendi estudando a língua Felupe: "Foi nele (por ele) que todas as coisas foram criadas. O auwum-mo-m ma uah au uuwenumin pèh. Coloquei em preto algo que já conhecemos. o radical UW que quer dizer "existir" o infixo EN causativo "faz com que" e o infixo UM que quer dizer: por meio de, através de, como já vimos. Sempre a causa do método empírico-indutivo em que já falei, fui a pocura de analogias, de coisas parecidas, de palavras semelhantes e encontrei uma: EUWUM ÂI a qual, tirando o prefixo E e o sufixo ÂI me dá UWUM, que é o radical UW = existir e o tal infixo UM = através de, por causa de, etc. Nada de novo, como estamos a ver. O motor começou a girar procurando o porquê. Fantastiquei um pouco lembrando que cada grupo de famílias (CLÃ) tem um EUWUM ÂI próprio, que funda a unidade e a coesão daquele clã: para uns é a gazela, para outros o hipopótamo e assim por diante . Seria algo como um "animal partner" talvez resíduo do totemismo que praticavam na época em que eram caçadores. Desconfiei que a tradução da carta aos Colossenses seria providencial para acabar com conflitos existenttes entre tabancas, etc. Até que, num encontro de catequistas, todos eles
adultos, casados, pais de bastantes filhos e conhecedores de sua cultura, perguntei os vários animais partners (Jémias, em criol) e o que significavam. Depois de bastantes respostas apresentei a tradução da passagem da carta aos Colossenses e o interesse subiu de tensão. Disse que desconfiava que isso podia ser útil, talvez, para entendermos que, como cristãos, somos uma família só. A este ponto ninguém os deteve mais. Largaram a discutir, forneceram explicações suplementares: como disseram, encontraram a chave para resolver bastantes problemas: Cristo é como que o "EUWUM ÂI" de tudo o que existe, principalmente dos homens, que portanto resultam ser irmãos, "família". O discurso passou às comunidades e além...
Foi por isso? Intervieram outros factores? O facto é que em menos de quatro anos a guerra entre tabancas felupes desapareceu, já não há tabancas inimigas e Anjiroken, a velhinha de EJIN, na Páscoa de 1990, podia fazer seu proclama: "É em Jesus que encontrámos a paz entre as nossaas tabancas!" e todos assentiram. Não houve reuniões nem conversações nem tratados de paz e de reconciliação com respectivas assinaturas mais ou menos solenes: foi uma reacção em cadeia, desencadeada por um anúncio quase casual! Mas que encontrou uma porta que se abriu de maneira inesperada. Será que isso pode ser uma pista também para o Sínodo e para a Guiné Bissau?

NB. 1. Mais desenvolvimentos deste tema se podem encontrar em:
- Vincent Mulago Un visage Africaine du Christianisme. L'union vitale Bantu face à l'unité vital ecclésiale. Présence Africaine, Paris 1962.
2. Interessante seria explorarmos também mais fenómenos linguísticos
confrontados a seguir com a realidade, para nos dar conta da concepção antropocêntrica e até "egocêntrica" da visão do mundo felupe, mas, apesar de ser matéria a evangelizar, nos levaria longe demais.

B. OS SACRAMENTOS que costumamos administrar aos filhos de cristãos, membros, pelo Batismo, do POVO DE DEUS: podem vir a ser um caminho de iniciação?
Antes de mais nada ñao consigo perceber porquê, estando nós a actuar no contexto de povos que atribuem uma importância exorbitante a tudo o que é iniciação e ao que a ela de qualquer maneira está ligado, devamos teimar em administrar , aos filhos de cristãos, só dois sacramentos, e bem isolados entre eles, ignorando qualquer processo educativo, e então iniciático. Não aproveitamos o que temos nas fontes de água viva e empurramos a gente a procurar água em cisternas "nem sempre tão igiénicas.
O que fazemos do Baptismo? Foi administrado e ... arrecadado.
O que fazemos do sacramento da Penitência? Nada: bilhete de ingresso para a primeira Comunhão e relativa festa (será melhor que eu escreva também Primeira em letra grande, porqe não se sabe bem qual entre as duas palavras é a mais importante)'
O que fazemos da Primeira Comunhão? Uma festa, possivelmente com "mansida" para que tenha uma certa importância e seja bem lembrada.
E do Crisma que fazemos? Era o que faltava ainda: Até que enfim acabou a história de ir à catequese no sábado e à Missa no domingo. Agora podemos dispor do nosso tempo para nos divertirmos como se deve nos "fins de semana"!...E assim, pulando de sacramento em sacramento, ( e talvez de paróquia em paróquia escolhendo come fazer mais depressa...) chegamos ao fim dos compromissos assumidos.
Absurdo! Vamos tentar ver se podemos, como primeiro passo, "inculturar" a "caminhada" sacramental dum filho de cristãos, num contesto de "iniciação" à vida de "Filho e Deus", atendendo ao compromisso assumido no Baptismo da criança.
Vamos fazer primeiro umas considerações sobre a concepção tradicional ideal da iniciação dos jovens para em seguida instituir, se possível, um "paralelo" com a iniciação cristã
NB. Colocamos só alguns elementos quanto a modalidades finalidades da iniciação
tradicional. Seu estudo não caberia aqui.. Marca-se, com a iniciação, o começo duma vida nova para o iniciando, e a própria tabanca conta os anos da história dela a partir das sucessivas iniciações.

Umas características:
A Iniciação refere-se a toda a tabanca, envolve toda a tabanca, os iniciadores, os "kuruncen aku " ou "buriten abu " (padrinhos étnicos que cada um tem na etnia Felup),
os anciãos que mandam e os outros que obedecem: é vida nova que se tenta enxertar no tronco da vida da tabanca, enraizar nas raizes mais profundas da etnia, da linhagem, da família, até à raiz última da vida, o antepassado, o "euwumâi " (animal partner no totemismo), o iran....em Deus.

Umas finalidades (em resumo):
a. Função política: reproduzir usos e formas de vida do passado; o que deu até agora, vai dar para diante também.
b. Função cultural: tradições, mitos, linguagem, sistema de valores e critérios de avaliação, leis do grupo...O depósito dinámico, gerador de novas escolhas...
c. Função social: novos relacionamentos, de adultos para adultos, de responsáveis para responsáveis, quer para com os indivíduos e, sobretudo, para com a tabanca em si.
d. Função simbólica: em definitiva a passagem da morte à vida, de uma existência "sem sentido" ( o jovem na etnia felup) a uma existência finalizada, "produtiva" para a vida da etnia...

Em conclusäo:
- Como o pai e a mãe dão origem a uma nova vida e há todo um tempo em que esta vida pulsa no seio da mãe e da família (e há os tabús, o "sacrum" a proteger esta vida em formação..)
- assim a comunidade humana está em gestação da nova geração, que se espera seja melhor das precedentes (jajar aju dos Felupes, quanto ao número de iniciados...) È o sonho de todos e de sempre, de alcançar uma vida melhor, que não seja constrangida ou em perigo...
- Deus veio ao encontro do sonho do homem: "para que todos tenham a vida..."

A INICIAÇÃO CRISTÃ
1. Não é o Baptismo, nem os três sacramentos em conjunto, a saber Baptismo, Confirmação, Eucaristia. Estes são os "Sacramentos" da iniciação, quer dizer sinais de que a iniciação tem lugar, pontos salientes dum caminho, em que Deus age, se encontra a fé que os torna assim sinais eficazes. Por exemplo: como já sabemos quando, durante as perseguições na antiguidade, o Baptismo era conferido em perigo de morte na iminência do martírio, no caso de o baptizado escapar à morte, devia fazer todo o caminho catecumenal, quer dizer, percorrer todo o itinerário da iniciação cristã para ser, de facto, iniciado.

Uma primeira observação: o menino cristão baptizado, ainda não recebeu os outros
sacramentos da iniciação, portanto está ainda em regime ded iniciação e, portanto, "a
caminho de...". Deve ser ajudado a marchar, a crescer, a "seguir a Jesus"... e os
sacramentos devem ser dados de forma "dinâmica", ao longo da caminhada....

2. A Igreja é POVO DE DEUS, que se constrói não por nascimento, mas sim pela fé
(cfr..Jo.3,5: pela água e pelo Espírito). É um chamamento, uma vocação.
Como para a vida natural, no Povo dos homens, há uma iniciação, assim para a vida nova no Povo de Deus há uma iniciação; é como que um processo natural, mas, atenção, proporcionado com a natureza da vida nova e já não mais com a natureza da
vida meramente humana (a "carne" em S. Paulo).
Essa iniciação cristã é obra de quem?
- De Deus (em Cristo) que indica e traz a verdadeira raiz da vida, o tronco em que os ramos são enxertados (cfr.Jo.15,1-11)
- Da Igreja, que indica qual é o caminho, quais os meios, quais as condições para que tal iniciação se efectue, para que haja um autêntico nascimento à vida nova em Cristo na própria Igreja (Col.2,9-13.15), e que, no seu conjuto, acompanha e como que "envolve" os iniciandos no catecumenado (para os adultos), chamado, por alguns antigos Padres, "seio materno da Igreja"
- Do homem (varão e mulher): não só participa e aguenta, nem que não esteja de acordo (Jitu ka ten ), passando à iniciacão quase que AUTOMATICAMENTE com a sua classe de idade; mas sim escuta, pergunta, crê, caminha, amadurece, assume, ESCOLHE... até que, na verdade, realiza uma mudança de vida, não só nos símbolos que lhe são "aplicados", mas na realidade da sua existência renovada, diferente da dos outros (em proporção aplica-se também a meninos e jovens)

3. Em conclusão, a Iniciação cristã a. Baseia-se não na repetição, mas na novidade (O Espírito guiar-vos-á pela verdade toda). Deus entrou na vida do homem e a revirou (metánoia: mudança de mentalidade) para que o homem se realize conforme o plano de Deus em Jesus, homem verdadeiro, que encontra as respostas adequadas às perguntas sobre a sua existência, perguntas que, crescendo, afloram à consciência do jovem.
- Não há mais Judeu nem Grego, ...nem homem nem mulher, mas Cristo tudo em todos (o verdadeiro Auwum au (o que se queria conseguir com a figura do Totem), o Antepassado (melhor: Antenato, antes nascido) único e vivente ...) que nos une a todos numa vida nova.

b. Realiza-se num contexto de Igreja:
- toda a comunidade envolvida, como na iniciação tradicional: participa e é renovada, "faz páscoa" enquanto acompanha a nova geração na caminhada iniciática.
- toda a comunidade transmite o que recebeu, as respostas definitivas e dinámicas: o
núcleo de que sai sua vida nova, a Tradição (1Cor.11,23; Cfr. 1Tim. 6,20)
- os responsáveis, os catequistas, os garantes e os padrinhos como que "condensam" o acompanhamento da comunidade toda e "materializam" as decisões acerca dos iniciandos.

c. Comporta:
- rupturas: as tradições humanas em muitos casos "sujaram" a Palavra de Deus (Mc.7,6-9; Lc.12,51-53...)
- escolhas: um sistema de valores diferemte do dos colegas, o que traz diferentes critérios de escolha (Cfr.Fil.3,2-14)
- crescimento interior na fé
- assunção duma forma de vida diferente, porque nova, "significativamente" nova, quer dizer nova até ser sinal intelegível para os outros, que os convida a colocar seus valores em discussão.
-TEMPO necessário para realizar estas mudanças todas (natura non facit saltus, e o
sobrenatural não se substitui ao natural....)

d. Tem etapas e períodos, marcados por umas celebrações e, sobretudo, pela administração dos sacramentos da Reconciliação e Penitência, da Eucaristia e do Crisma. Desta forma vê-se mesmo que a iniciação tradicional é plenamnte ultrapassada e se deveria discutir se, nem que reformada, ainda teria razão de ser.
Qual a iniciação para os filhos dos cristãos, já baptizados? A que é feita por mãos de homens? (Cfr. Col. 2,11) A que subjaz a critérios ditados por valores simplesmente humanos (ex. g. só machos, sem fémeas)? A que dá respostas parciais e provisórias, dependentes só da palavra dos homens, de seus conhecimentos, meios e valores?
A que tenta alcançar, através de símbolos, às vezes sugestivos, às vezes carregados de consequências lesivas de direitos humanos, realidades sonhadas mas julgadas
inalcançáveis (ex. o nascimento para uma vida nova)?...
A que recorre não só a intercessores, mas até a "mediadores" entre Deus e os homens
que atentam à unicidade do Mediador, "Homo Christus Jesus"?
Claro que, para cada uma destas vozes temos a contrapartida da iniciação cristã, que não é a "Primeira Comunhão" como é feita agora, nem a "Confirmação" actual etc. Tem que ser tudo repensado como CAMINHO e não como celebrações que não celebram nada, a não ser uma festa exterior, em que a comunidade participa só por momentos.
Não é suficiente dizer ñao à iniciação tradicional, no caso de a acharmos ultrapassada ou de valor não proporcionado aos riscos e aos atrasos que provoca.
Temos nas mãos um caminho de iniciação a valorizar. Para tal tenho só umas pequenas experiências que vou contar assim, um bocado desordenadamente.
O que é mais importante é que, depois de anos de insistência, os núcleos mais vivos das comunidades estão tomando a peito o assunto; começamos a propor uns sinais, tentando "ENVOLVER" as famílias no próprio caminho de iniciação, que abrange toda a educação cristã dos filhos, até a preparação ao próprio casamento, para os que a ele são chamados, e à animação vocacional, inserida neste mesmo processo de educação, de que os pais são responsáveis em primeira pessoa, porque pais, e não são chamados em causa só na altura da "festa".

Umas indicações acerca do que já se está a fazer na paróquia de Suzana em tema de Iniciação dos filhos de cristãos.
Baptismo de crianças: na catequese de preparação, os pais são perguntados sobre a situação dos
filhos mais crescidos; pnde estão, o que fazem, qual a sua situação em ordem ao caminho cristão; quanto aos mais crescidos: qual a sua situação matrimonial.
Os irmãos presentes na comunidade são convidados a prepararem-se para o Baptismo do irmãozinho: serão eles que mais de perto lhe indicarão o caminho. Agora, na celebração, todos eles assumem este compromisso fazendo eles também, depois do clebrante, pais e padrinhos, o sinal da cruz na testa do irmãozinho...
A celebração da Primeira Confissão faz parte da caminhada da Iniciação cristã dos filhos de cristãos baptizados em crianças. (Sacramento injustamente posto de lado...)
Tirando da descrição de tal caminho apontamos o seguinte:
“Nos primeiros anos, em família, através da oração e de vários “input” a criança vai acostumando-se a ser chamada “filho de Deus”, de facto está em comunhão de vida ( junta bida) com Cristo.

NB.(É importante que comece a aparecer a palavra "comunhão", referida por exemplo ao camiho, à
vida, para que guarde toda a sua dinamicidade e não seja entendida como algo de quase "mágico"
exclusivamente aplicado à Eucaristia). Os “input” são de ordem diferente: por exemplo, a mãe vai à missa com a criança ao colo. Pode haver mais momentos, informais, mas que podem ser sugeridos aos pais cristãos… E’ um caminho muito leve, mas que ajuda a "junta sintidu" (= fazer comunhão) com Jesus; caminho que desemboca na primeira catequese na Paróquia e que continuará pela vida toda.
A certo ponto acorda um princípio de “consciência moral”. Não è preciso que seja através da catequese
formal. Simplesmente a criança se dá conta de que há acções de que os pais gostam e outras de que não gostam; quando faz algo de que os pais não gostam, apercebe-se que há algo que não vai, aos poucos aprende que è melhor pedir desculpa. Há como que um afastamento dos pais (da mãe) e depois, pedindo desculpa, voltam a se aproximar de novo. (=Ruptura e reestabelecimento da "comunhão"!
Aqui se insere o relacionamento com Jesus. Eu costumo dizer aos pais: seus filhos começaram a entender que há coisas que podem fazer porque vos agradam e outras que não podem fazer porque não vos agradam? (e normalmente procuram se esconder?) Percebem que quando fazem, cientemente, algo que vos não agrada è como que se se afastassem de vós, vão por outro caminho? (Ruptura da "comunhão"...) Se a resposta è sim, a estrada está aberta para que, através da catequese, se introduza uma referência a Jesus: há coisas que lhe agradam e outras que não, como acontece com os pais. Coisa que se detecta simplesmente através de episódios do Evangelho, (as historinhas de Jesus).
E se algo não lhe agrada e eu fico com aquele sentimento de culpa e de afastamento? Será que posso pedir-lhe desculpa? E quem è que me diz que ele me perdoa? Quem è que me diz que podemos voltar a andar juntos? Aqui se abre o caminho para a catequese em vista do Sacramento com que voltas para junto de Jesus, sacramento em que o encontras e voltas a andar junto com ele, no mesmo caminho (bo junta kamiñu). E cada vez que precisares de voltar para Ele para lhe pedir desculpa e andar novamente com Ele, tu voltarás ao sacramento do perdão, que tem uma “personalidade” própria, uma função específica no caminho da iniciação, marca uma etapa bem definida, ainda antes de pensar na primeira Eucaristia.
(Importante também è a referência à Igreja: Jesus deixou seu perdão nas mãos da Igreja, de que te
afastas com o pecado; a Igreja, por sua vez, manda os padres para que possamos encontrar Jesus que nos perdoa…).” (Ver as minhas "Notas sobre a catequese infantil").
Como se faz a celebração?
- Antes de mais nada, uma vez seleccionados os candidatos juntamente com pais, padrinhos e catequistas, eles
são convidados a uma série de três retiros, em conjunto com os candidatos das outras comunidades da
Paróquia. Retiros a que participam uns Grandes, em veste de Iniciadores.
- A celebração comporta a presença da comunidade, pelo que ainda conseguimos fazê-la na Missa Dominical:
se o grupo é grande, reparte-se em grupinhos de 10-12 meninos
- Eles se juntam no fundo da Igreja: dentro da mesma, porque já são Baptizados. Naquela altura vieram para diante ao colo dos pais. Agora vêm marchando com seus pés: querem juntar caminho com Jesus (junta kamiñu): sabem, têm consciencia que com certos actos se afastaram dEle para seguirem outras coisas, agora querem voltar para junto dEle, representado diante deles no Círio da Pascoa. (sempre presente quando se trata de iniciação).
- Os pais acompanham. Começa a Missa. Depois da oração penitencial a comunidade senta-se e reza, e os meninos, um por um, são acompanhados pelos pais para perto do padre. O menino faz sua Confissão. Os pais esperam por ele. Depois rezam juntos com ele e voltam para seu lugar.
- Na parte final da Missa entrega-se um fascículo em banda desenhada do Evangelho e o livrinho das orações: tentam conhecer mais a Jesus além de que na catequese também através da leitura e da oração. E são exortados a voltarem sempre para junto dEle que sempre os espera.
A Comunidade também espera por eles, para autro ano, para sua Primeira Eucaristia.

Celebração da Primeira Eucaristia em Suzana.
Aqui também tiro algo das “Notas sobre a catequese infantil”:
“A fase chamada da preparação à primeira Eucaristia representa uma etapa sucessiva. Então, a criança
- junta vida ku Jesus no Baptismo
- junta sintidu ku Jesus progressivamente através de input, exemplos, etc…. primeira catequese, a formação progressiva da consciência moral...
- junta kamiñu ku Jesus através do encontro com ele no sacramento do perdão, cada vez que se apercebe que se afastou dEle e andou por caminhos diferentes;
enfim, na Eucaristia “i na junta kabesa” com Jesus: os elementos fundamentais da Missa, que não è só
“comunhão”, mas sim Palavra, Oração, Entrega… Comunhão com Ele e com a Igreja. Momentos e elementos que devem ser evidenciados e que resumem as etapas precedentes. (Não se pode comer se alguém não cozinhou, e para cozinhar è precisa muita coisa: tu já podes trazer algo….)” É be acenar já também a estes elementos, apesar de dar maior relevo ao facto que o menino é admitido ao "Convite" com os grandes. Ele é "da casa" e come com "os da casa" Na altura do Crisma é que será dado relevo ao envolvimento vital com Jesus no seu Sacrifício da Cruz,quano o rapaz tomará mais consciênciaa da sua identidade e missõ com Rei, Sacerdote e Profeta).
Aqui também há uma série de retiros com as mesmas modalidades.
A celebração comporta a renovação das promessas Baptismais, feitas diante do Círio Pascal.
Os candidatos trazem as ofertas que eles próprios prepararam. Vêm à Igreja e à Comunhão com os pais (possivelmente. É contudo importante que haja adulos os tais iniciadores...), que também são insistentemente convidados a acompanharem os filhos nesta caminhada de preparação.
No final recebem o livrinho do Rosário e o terço; possívelmente um livrinho do Evangelho: è conhecer
melhor a Jesus para poder viver com Ele e para que Ele, em nós, alcance também os outros.
Entre Primeira Comunhão e Crisma
A caminhada da iniciação dos filhos de cristãos continua, até se faz mais apertada. Infelizmente a este ponto há uma dificuldade:
- por causa da continuação na escola muitos saem e ficam fora 10/11 meses cada ano
- a série dos catecismos revela-se inadequada a cobrir estes anos (4/5) que são os anos cruciais da pré-adolescência e da adolescência. Desde uns anos estamos procurando algum sinal que lhes dê mais força, uma etapa intermédia que lhes lembre que estão caminhando com Jesus na Igreja.
Se Deus quiser estamoos chegando a esta conclusão:
- Ao longo do ano de catequese se faz uma lista dos que presumivelmente irão sair no ano successivo para frequentar a escola em Bissau ou alhures
- Durante as férias se vão fazer alguns retiros em preparação a um “sinal intermédio” que queríamos fosse como que um sinal de “Envio”, que se fazuma pequena celebração na Missa do Domingo em que a estes candidatos se entrega um Crucifixo:
- tu es cristão e já estás unido a Cristo, escolheste viver em comunhão com Ele
- tu es cristão de Suzana e nesta comunidade foste moldado através dos dons de Deus
- estás saindo para outra terra
- onde quer que estejas, procuras a Igreja: è a tua casa, nela continuas tua caminhada, juntamente
com os novos irmãos que encontras na "casa-Igreja" em que chegaste, crescendo juntos na fé;
- onde quer que estejas professas a tua fé: se na casa onde moras és o único cristão, não tenhas medo:
tu és enviado pela tua comunidade aa anunciar a Cristo, a fazer seus discípulos. Penduras a tua cruz
lá onde dormes e de manhã e à noite fazes tua oração: è a primeira forma de testemunhar a Jesus; alí
encontras também a força de continuar a testemunhar. Não vais “aguentar” mas sim “anunciar”: tu
és que tens algo que podes dar, que os teus colegas ainda não têm.
- Durante estes anos, no tempo da chuva, quando estão todos presentes, programámos encontros de formação* integrativos da catequese, tentando, aos poucos, construr também uma espécie de roteiro para formação de pré-adolescentes, adolescentes e jovens (também depois do Crisma) de forma a ajudá-los a enfrentar a vida com mais consciência.

Celebração do sacramento do Crisma em Suzana.
O Sacramento da confirmação dos jovens, geralmente filhos de cristãos, é visto como o ponto mais alto de todo um caminho de iniciação começado no Baptismo, continuado na própria família cristã e, progressivamente, na comunidade. Momentos salientes deste caminho são as celebrações da primeira confissão e da primeira comunhão, precedidas, além do que da catequese apropriada, também de retiros em conjunto com candidatos de todas as comunidades, acompanhados por anciãos.
A preparação ao sacramento da Confirmação comporta pelo menos um ano de catequese e é conferido a rapazes de 18 anos para cima e a moças de 17 para cima. Na catequese e nos retiros é explicado claramente que a recepção deste sacramento os incumbe duma missão no conjunto da comunidade de que se tornam elementos "responsáveis". A celebração é preparada por uma série de retiros em que participam todos os candidatos de todas as comunidades em conjunto, acompanhados por adultos "iniciadores" . Além dos retiros há um colóquio pessoal com o Padre responsável da missão: são perguntados acerca do que vêem e pensam da comunidade, de como pensam de se situar nela, de quais são os programas da sua vida, se têm ideia suficientemente clara da sua perspectiva vocacional, do empenho concreto que querem assumir na comunidade em que se encontram, a sua natural ou aquela em que se encontram por motivos de estudo ou de trabalho; também fazem experiência do facto que se vai ter com o padre não só para o sacrameto do perdão, mas também para tratar problemas pessoais, para expor dúvidas, projectos, sugestões etc.. ( em vista duma possível direcção espiritual").
Nas semanas precedents a celebração, há umas catequeses feitas comunidade por comunidade, em que participam os confirmandos rodeados pelos adultos: é a preparação próxima ao rito final da iniciação, em que todo o Povo de Deus se encontra envolvido.
O último retiro é na véspra da celebração. Leva a manhã toda. Comem juntos. Na tarde continuam reunidos em Suzana onde irão morar na missão acompanhados por seus iniciadores.
Os quais iniciadores contam também aos filhos a história de suas comunidades e realçam os dons que nelas receberam de Deus. O padre por sua vez enquadra o discurso com uma informação rápida sobre a Igreja em África e mais pormenorizadamente em Guiné Bissau.
À noite há a celebração da vigília, com leituras , cânticos e orações, no estilo da Vigília de Pentecostes.

No dia da celebração os candidatos acordam e reunem-se na casa de um dos cristãos. Lá é que vestem a veste branca do Baptismo. Celebração desdobra-se em dois momentos: primeiro há a profissão de fé junto do túmulo do Pe. Spartaco Marmugi, o apóstolo que nos trouxe a fé, como também dos túmulos dos primeiros que a abraçaram e testemunharam: são as raízes da nossa igreja; a seguir a assembleia vai em procissão à igreja onde a celebração continua e acaba.
No Cemetério. A comunidade reúne, enquanto os candidatos estão ainda na casa de um dos cristãos, com uns anciãos iniciadores. Depois de um cântico e do sinal da cruz, há uma breve explicação dos ritos a seguir e uma oração para os crismandos. Estes vêm, precedidos pelos dançarinos e a comunidade abre-se para os receber. O Cântico com que se apresentam é o do início do caminho, da vocação cristã: Inje ome kayó| d'Au/ Bu coman, Siñor Jesus.
A comunidade abre-se para receber os crismandos que se dispõem em semi-círculo diante do túmulo de P. Marmugi; atrás deles estão os pais, que seguram as velas, apagadas, do Baptismo.
Leitura de Ef. 2,4-8a.11-22. seguida pelo refrão e primeira estrofe do cântico "Kuñol Eluup ai ianir ai" (Anós i família di Deus) e de uma breve explicação que enquadra o rito da renovação das promessas do Baptismo, de que tem lugar, por enquanto, só a primeira parte, a renúncia a Satanás e a tudo quanto nos afasta de Deus. Respondem só os crismandos e a comunidade escuta. A este ponto, depois de uma breve explicação do que vai acontecer, um de cada vez, os pais acompanham os filhos até junto do círio pascal, situado ao pé di túmulo de Pe. Marmugi. A Comunidade pode confiar nos novos membros, vê-os decididos em segurar a fé e continuar o caminho empreendido pelos primeiros cristãos e expressa sua confiança neles. O pai entrega a vela ao filho que a acende ao círio, e juntos voltam pare seu lugar.
Diz: "Ái, emanjum âi iata kaìnen aku k'uluyabàm, m'onkenal di ko." (Toma o sinal da fé que recebemos, para continuarmos nela) O filho responde "Amen". O crismando vai acender a vela ao Círio Pascal, regressa e o pai dá-lhe um aperto de mão cumprimentando “Kassuumai” a que o filho responde “Kassuumai keb”. Nunca se cumprimentam assim em casa: esta é a primeira vez e queremos realçar que o filho agora não só é “adulto” mas também não é mais da família que o gerou e mais nada: pertence à Igreja. Quando todos tiverem cumprido o rito, tem lugar a profissão de fé. Respondem os crismandos e no fim canta-se, em conjunto, o refrão do cântico "Niìnene d'Emit ai", duas vezes, seguido pela terceira estrofe do cântico "Kuñol eluup ai ianir ai"/ "Anós i família de Deus".
A este ponto vai-se para a igreja em procissão, cantando. O Círio vai na frente, a seguir vão os dançarinos, os candidatos com os iniciadores, os celebrantes, as comunidades. Chegados à igreja, os candidatos vão a seus lugares acompanhados agora pelos padrinhos e a celebração continua como no ritual. A mensagem fundamental que tentamos transmitir nesta última etapa da iniciação cristã é a seguinte: O Espírito Santo que desce sobre vós, renova em vós a vida que recebestes e os sacramentoa que vo-la comunicaram:
- consciência do Baptismo recebido e do dinamismo que imprime à sua vida: filhos de Deus!
- compreensão da "sabedoria" de Deus, do sentido da vida e da criação, da luta contra o pecado
que qer tirar sentido à nossa vida, para adquirir a mentalidade de Jesus (penitência)
- a Eucaristia passa da "comunhnão-convite" a que tomam parte também as crianças da família para o
"sacrifício" em que se unem a Jesus, sacerdote vítima para a salvação do mundo!
Quer dizer que tudo muda, tudo se desenvolve segundo a sua dinámica:
entra-se numa NOVA ORDEM DE IDEIAS e a vida recupera o seu significado entrando numa caminhada sacramental:
-o sacramento do matrimónio: continuar no mundo A VIDA QUE DEUS CRIOU REI
-a ordem sagrada: continuar a presença de Cristo sacerdote e vítima "para eles terem VIDA" SACERDOTE
-a consagração religiosa ou laical como sinal e profecia do aspecto esquecido da VIDA,
o de além mundo que dá sentido ao mundo. PROFETA
Desta forma o Espírito Santo nos faz SANTOS, quer dizer nos coloca do lado de Deus: no mundo mas não do mundo, para dar sabor à vida do mundo
Carta a Diogneto: os cristãos são a alma do mundo:
alma, espírito como principio vital (iaror): fazem o mundo viver com Cristo (Col.1,16-20)
alma, espírito como inteligência e consciência (buyegeit/buinum): reconhecem e interpretam a cultura, a
vida, a história de seu povo fazendo aparecer nela a HISTÓRIA DA SALVAÇÃO que nela Deus escreveu, acompanhando o povo ao encontro com Cristo.
(ex. toda as vezes que Jesus interpreta os mandamentos: "ouvistes..., mas eu vos digo", o sábado, o puro e o impuro, o documento de Moisés para a rescissão do contrato de casamento; os discípulos de Emmaus.....). Neste contexto tomarão suas decisões para empwreenderem o caminho da vida.
Lembrando que, no cao do matrimónio, a cultura felupe tem umas riquezas insuspeitadas, que nem eles próprios conhecem ao fundo e até preparam de perto o próprio sacramento.