A caminho do
Sínodo
Uma Provocação sobre o Diretório da
Iniciação cristã dos adultos: Qual a finalidade da caminhada de iniciação
cristã?
Encontrar a Cristo e ser nele
“enxertados”, “enraizados”. Ver passagens do NT:
a)
Col 2,5-7.8-21 passim; "Irmãos, assim como recebestes Cristo Jesus, o
Senhor, continuai a caminhar n’Ele, enraizados e edificados nele, firmes na fé
tal como fostes instruídos, transbordando em ação de graças. Olhai que não haja
ninguém a enredar-vos com a filosofia, o que é vazio e enganador, fundado na
tradição humana ou nos elementos do mundo, e não em Cristo. Porque é nele que
habita realmente toda a plenitude da divindade, e nele vós estais repletos de
tudo. Ele que é a cabeça de todo Poder e Autoridades. Foi nele que fostes
circuncidados com uma circuncisão que não é feita por mão humana: fostes
despojados do corpo carnal pela circuncisão de Cristo. Sepultados com Ele no
Batismo, foi também com Ele que fostes ressuscitados, pela fé que tendes no
poder de Deus que o ressuscitou dos mortos. .... Não vos deixeis condenar por
ninguém no que toca a comida ou bebida ou a respeito de uma festa, de uma lua
nova ou de um sábado. Tudo isto não é mais de uma sombra das coisas que hão-de
vir: a realidade está em Cristo. ....."
b)
Gal
2,19b-20;" Estou
crucificado com Cristo. Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. E
a vida que agora tenho na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus que me amou e a
si mesmo se entregou por mim." ……
A passagem de Colossenses parece escrita mesmo para a nossa
situação: muitos batizados, que porém não continuam, até voltam para trás;
muitas saudades do que se deixou e pressa demais para seguir qualquer proposta
extemporânea de qualquer pregador; a tentação de seguir a onda, de não ficar
por trás, etc…. Qual o remédio? Paulo recorre a um só: repartir de Cristo; a
centralidade e exclusividade do Salvador: só sendo seus discípulos, partilhando
na verdade da sua vida e das suas escolhas é que se progride na fé, na prática,
na vida que recebemos nos sacramentos da Iniciação. Será o caso de voltar às
origens e de repensar um bocado naquilo que estamos fazendo. Será que estamos
realizando aquilo que fomos mandados fazer?
c) Mt 28,19-20: "Ide pois, FAZEI DISCÍPULOS todos os
povos batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espirito Santo ensinando-os
a cumprir tudo quanto vos tenho mandado. E sabei que eu estarei convosco
sempre até ao fim dos tempos".
Se decidirmos olhar para os três verbos que Mateus emprega,
falaremos em três operações, de que a primeira é “fazer discípulos”. Se em vez,
seguindo mais fielmente o texto, retermos o verbo principal como contendo o
mandamento e os dois particípios como indicando os meios, o resultado não muda,
porque Jesus mandou seus apóstolos a “fazer discípulos” todos os povos, não propriamente
a batizá-los. Esta última operação é subordinada ao próprio mandamento: deve
servir para fazer discípulos! Esta é a missão que Jesus confiou aos onze, e não
se trata só de batizar. Até que o próprio Paulo, falando aos Corintos divididos
e partidários diz: “…será que vocês foram batizados em nome de Paulo? Dou
graças a Deus que eu não batizei nenhum de vocês, a não ser Crispo e Gaio.
Assim ninguém pode dizer que vocês foram batizados em meu nome. Ah, sim,
batizei também Estéfanas e a família dele, mas não lembro de ter batizado mais
ninguém. Pois Cristo não me enviou para batizar, mas para anunciar o Evangelho”
(1Cor.1,13b-17a). Então o mandamento que recebemos è de fazer discípulos,
mais do que propriamente de batizar.
1. Fazei
discípulos (discípulo vem de discere e quer dizer aprendiz, que
se acompanha com seu mestre, e não se fala de algo que acabará uma vez
conseguido um hipotético diploma. Até ao próprio Pedro, depois de o ter
constituído Pastor de toda a Igreja, Jesus lembra que é e deve continuar a ser
discípulo e intima-lhe: “Tu segue-me!” (Jo 21,22b))
2. Batizando-os. Quem
devemos batizar? Os que aceitam fazer-se discípulos, claro, os que aceitam
caminhar com Jesus (“negue-se a si mesmo, tome sua cruz e sigame” (Mt.16,24)).
E são batizados “no nome”, quer dizer em relação vital, com o Pai, o Filho e o
Espírito Santo. Não é um gesto que confere algo de “pontual”, mas sim de
“linear”: é um ponto de partida, um início de uma vida nova. Por isso é que
falamos em “Sacramentos da Iniciação” e não em Sacramentos de “conferimento” de
algum diploma, de algo que “finaliza” um curso….. (sakramentus di kabantada….)
Deve ser por isso que no RICA, quando se fala de admitir alguém aos Sacramentos
da Iniciação, mais do que falar nos anos de catequese, fala nos “requisitos”:
alguém que possui tais requisitos pode ser admitido aos Sacramentos da
Iniciação, ver por ex. o n° 23 (a trata-se da “electio”!); 68: entrada no catecumenato; Na nossa linguagem também
deveríamos mudar um bocado: porquê falamos continuamente de “Preparação para o
Batismo”? Claro que, uma vez lá chegado, alguém pode pensar: consegui, agora
descanso! Não será melhor que falemos em “preparação ao encontro com Jesus
através dos Sacramentos da Iniciação”? Explicitando que o encontro com Jesus é
para se tornar seu discípulo: Evangelium
docet. (A linguagem não só revela, mas também transmite uma mentalidade)
3. Uma
vez batizados tudo acabou? Não: Ensinai-os a observar tudo quanto vos
ensinei: começa com a mistagogia e continua com a catequese que nunca acabará
e compreenderá também a formação da consciência, para enfrentar as situações da
vida que continuamente mudam. (Afinal é o que aconteceu com as primeiras
comunidades cristãs: o que é que representam as cartas apostólicas se não este
processo de reinterpretar a vida na luz da novidade conferida pelo Batismo? Por
isso o NT é uma grande riqueza para a nossa pastoral! Um “livro de bordo” para
navegação…) Como é então que muitos dos nossos batizados, que batizamos porque
“sempre frequentaram a catequese”, uma vez chegados ao Batismo param, julgando
que acabaram?
Acabaram a escola, no entender deles, e já têm diploma!
Seriam estes os “discípulos” os que andam com Jesus numa vida nova que não tem
fim? Os que negam a si próprios, carregam sua cruz e o seguem? Pelos vistos,
chegados a este ponto tal vida parece ter acabado: no diskansa! Mas
então porque é que o fruto da nossa pastoral catecumenal continua sendo desta
forma e qualidade? Haverá algo que deve mudar, talvez. O Diretório ajuda-nos
neste sentido? Experimentámos aplicá-lo? Se não nos ajuda, ele também deve ser
mudado. Pelo menos procuremos começar a aplicá-lo, depois veremos o que
reformar. Será que no Sínodo se pode debater algo neste assunto?
P. José Fumagalli
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