No dia 22 de novembro de 2018, a nossa diocese de Bissau teve o privilegio de receber uma pequena delegação da "Ajuda à Igreja que Sofre" (=AIS) nas pessoas de Rafael D'Aqui, chefe de seção, e de Monika Sinzig, assistente administrativa, que quiseram encontrar o pessoal missionário. Eles estão a visitar - durante uma semana - as missões das duas dioceses de Bissau e Bafatá, onde foram financiados projetos em nome da AIS.
O encontro foi muito interessante, porque ajudou a compreender quais são os critérios e as modalidades para a obtenção dum financiamento por parte desta grande organização caritativa que opera em todo o mundo.
Fundada em 1947 pelo Padre Werenfried van Straaten, inspirado na mensagem de Fátima, a Fundação AIS é uma organização dependente da Santa Sé, tendo por objectivo apoiar
projectos de cunho pastoral em países onde a Igreja Católica está em
dificuldades.
No início, o trabalho da AIS consistia
apenas em auxiliar os refugiados da Alemanha de Leste que fugiam da
ocupação comunista, mas rapidamente se espalhou pelos campos de
refugiados da Europa e da Ásia, pelas Repúblicas Populares comunistas,
pela América Latina e pela África.
Os desafios são múltiplos: totalitarismo de esquerda ou de direita,
fanatismo religioso, multiplicação de seitas, materialismo, falta de
sacerdotes, etc.
A Fundação esforça-se por responder aos apelos numerosos e urgentes que lhe chegam a todo o momento.
A nossa diocese de Bissau abriu este espaço de dialogo e partilha com todos os que estão interessados em conhecer a nossa história, projetos e sonhos.
quinta-feira, 22 de novembro de 2018
terça-feira, 6 de novembro de 2018
Entrevista ao p. Jaquité (2a parte)
P. Jaquité: “O que nos une é muito maior do que o que nos possa dividir"
O padre Jaquité fala-nos da Guiné-Bissau e do trabalho que aí tem desenvolvido e comenta o pontificado do Papa Francisco.
Rui Saraiva – Porto
O padre Keylândio Abdulai Jaquité é sacerdote católico da Guiné-Bissau que, no entanto, nasceu muçulmano. Esteve 2 anos em Portugal para concluir um mestrado em psicologia na Universidade Católica e, ao mesmo tempo, foi vigário paroquial na Paróquia do Santíssimo Sacramento na diocese do Porto. Antes do seu regresso à Guiné-Bissau concedeu uma entrevista à Rádio Vaticano da qual transmitimos agora a 2ª parte. O padre Jaquité fala do seu país e começa por referir os trabalhos que tem desenvolvido no Seminário junto dos mais jovens e também no âmbito do diálogo inter-religioso.
R: Enquanto sacerdote chamado a trabalhar na formação da juventude eu senti que era uma responsabilidade. Dei tudo o que podia para o bem da Igreja. E enquanto sacerdote nas comunidades onde trabalhei também tentei ser essa figura de Cristo presente no seu povo. E já agora acrescento uma outra parte que também acho interessante: participei várias vezes em encontros, se calhar, porque sou de origem muçulmana convertido ao catolicismo, no trabalho que a Igreja da Guiné faz no diálogo inter-religioso. A Igreja tem vindo a caminhar de mãos dadas com os nossos irmãos muçulmanos e evangélicos. Em diversas situações vai havendo intervenção no sentido de tentar ajudar. E temos tido bons resultados. Uma iniciativa, que existe já desde o tempo do nosso querido e saudoso bispo, Dom Settimio Arturo Ferrazzetta, primeiro bispo da diocese da Guiné na altura, hoje são duas, Bissau e Bafatá. Quando chegar dependerá daquilo que o bispo me pedir. Se me pedir para integrar, outra vez, esse grupo, com toda a vontade irei dar aquilo que aprendi aqui.
P: E esse caminho de diálogo inter-religioso tem sido no interesse das populações e na resolução de problemas concretos das populações?
R: Sim. Tem sido um trabalho interessante porque felizmente na Guiné nós temos essas religiões e a convivência entre as religiões é pacífica. O que dá mais maleabilidade para esse caminhar no diálogo nos trabalhos pastorais, com ideias um pouco diferentes dependendo dos dogmas e credos, mas, enfim, olhamos todos para aquela população a qual somos chamados a servir. Por isso, eu acho que é positivo continuarmos a caminhar nesse sentido.
P: De um ponto de vista mais social e político, como é que vê a situação na Guiné-Bissau nos últimos anos?
R: Nos últimos anos na situação na Guiné a Igreja tem tido uma postura, como sempre, de tentar fazer as pessoas perceberem… É verdade que houve períodos de instabilidade, mas, nós procuramos continuar a dizer às pessoas para procurarem o diálogo. Já estamos quase a celebrar os 20 anos daquele conflito político-militar que ceifou muitas vidas que deixou marcas de instabilidade governativa e política. Mas, a Igreja tem tido essa postura de mediação no sentido de não tomar partido mas de fazer as pessoas perceberem e ver que, de facto, o que nos une é muito maior do que aquilo que nos possa dividir.
P: Uma pergunta última sobre o pontificado do Papa Francisco. Vamos no 6º ano de pontificado. Que comentário, neste momento, ao pontificado do Papa Francisco?
R: Eu acho que fazer um comentário sobre o pontificado do Papa Francisco é olhar para esta figura que hoje temos como Vigário de Cristo na Terra, o Sucessor desta missão apostólica que Cristo deu a S. Pedro. É uma bênção, termos um Papa como este que tem uma visão muito mais ampla, no sentido de ir ao encontro das pessoas na suas realidades, nas suas periferias. É verdade que o Papa iniciou uma mudança, uma caminhada e, então, somos todos convidados a estar com ele, a rezar e a deixar que as coisas caminhem conforme o Espírito. Porque o Espírito de Deus está a agir como agiu outrora. O Santo Padre está a fazer um trabalho maravilhoso. E é verdade que desde os tempos antigos houve pessoas que poderão não estar de acordo e, às vezes, até hostis… Mas como disse o Santo Padre há pouco tempo: é preciso rezar e calar. Quem reza pede a ajuda de Deus e o calar é permitir esse silêncio para que o próprio Deus nos fale no nosso interior. E nós todos os cristãos que estamos espalhados pelo mundo fora somos convidados a estar com o Papa e a rezar com ele a pedir a esse Deus que o chamou das periferias para dirigir a Sua Igreja, que o assista e nos ilumine a nós. Mesmo nas nossas casas, às vezes, em alguns assuntos podemos discordar mas não deixamos de ser a mesma família. Portanto, somos famílias de Cristo e temos que perceber que rezando e procurando consensos é que poderemos caminhar juntos.
O padre Keylândio Jaquité fez-nos companhia nos últimos dois programas da rubrica “Sal da Terra, Luz do Mundo”. Regressou à Guiné-Bissau após a sua experiência de estudo e de trabalho pastoral na diocese do Porto. Para os guineenses e todos os que nos escutam no continente africano enviamos uma saudação muito amiga. Aquele abraço.
Laudetur Iesus Christus