segunda-feira, 26 de junho de 2017

DECLARAÇÃO FINAL DA SEGUNDA SESSÃO



DIOCESE DE BISSAU
SÍNODO DIOCESANO 2017

A Diocese de Bissau, fiel à sua missão, reuniu-se em Sínodo, segunda sessão, de 29 de Maio a 1 de Junho do ano em curso, sob o tema “Nova Evangelização”.
O Sínodo Diocesano é uma ocasião favorável para a família diocesana rever criticamente o estado do ser e agir como cristão, bem como a presença testemunhal da proximidade do Reino de Deus, através da conversão e fé no Evangelho.
O caminho sinodal é uma das missões da Igreja peregrina, numa busca permanente do bem da comunidade na missão evangelizadora, envolvendo todos os católicos e as estruturas pastorais no anúncio do Evangelho, num contexto que coloca perante a ação pastoral vários e sérios desafios. A falta de amor que conduz ao perdão, a fraca integração de culturas locais no processo de evangelização, a presença notória e ameaçadora do sincretismo religioso, a fragilidade da fé de muitos cristãos, a desconexão entre a fé e a razão, a vergonha de testemunhar com coerência a própria fé, a grave passividade em relação à missão que Jesus nos confiou, a crise de valores e de referências que afetam particularmente a juventude, e as ameaças à dignidade humana e ao desenvolvimento integral do homem na nossa sociedade, são desafios que interpelam a Igreja Católica na Guiné-Bissau e para os quais a comunidade diocesana é chamada a refletir profundamente e a procurar respostas, através da definição de linhas concretas de ação pastoral.
Estes e outros problemas, que traduzem-se na crise da fé, e a complexidade crescente da missão evangelizadora da Igreja local face às mutações da realidade social e cultural na sociedade guineense, interpelam não só o Bispo, mas também toda a família diocesana e as estruturas e métodos pastorais, exigindo respostas adequadas, inadiáveis e exequíveis. 
Fiéis ao modelo da nossa vida que é e deve ser sempre Jesus Cristo - Homem Novo e fermento da nova humanidade onde reina o amor, a paz e a justiça, e fortalecidos com a ajuda do Espírito Santo nos trilhos e na ceara da Nova Evangelização- estamos convencidos que é possível seguir o caminho de Deus, Nosso Senhor, que torna a vida feliz e fecunda, e que permite alcançar uma vivência com melhores qualidades cristãs e uma maior dignidade para o homem.
O Sínodo é, assim, um momento comunitário especial de reflexão profunda, partilha solidária e trabalho fecundo, bem como de oração para que com o Dom do Espírito Santo os sinodais (participantes no Sínodo) tenham a bênção de realizar a vontade Divina na missão evangelizadora. Por isso, o Sínodo é (um momento de) esperança,  renovação e fortalecimento do compromisso da comunidade diocesana com a missão da Igreja.
Nesta segunda sessão dos trabalhos do Sínodo, os sinodais, empenhados na procura de maneiras de mostrar Jesus aos que O procuram na Guiné-Bissau (terra ainda de missão), tiveram a oportunidade de refletir, opinar, debater e aprender em comunidade sobre os seguintes sub-temas que compõem a agenda de trabalhos:
Inculturação
O termo inculturação é muito recente e significa a encarnação do Evangelho nas diversas culturas e simultaneamente a introdução dos diversos povos com as suas culturas dentro da Igreja. Trata-se de um processo lento e difícil, que requer muita paciência, discernimento e competência.
Em seu correto desenvolvimento, a inculturação deve ser guiada por dois princípios: “a compatibilidade com o Evangelho e a comunhão com a Igreja universal”.
Tal processo requer gradualidade e deve envolver todo o povo de Deus, e não apenas alguns peritos, dado que o povo reflete aquele sentido da fé que nunca se há-de perder de vista (RM 52-54).
O Sínodo recomenda que a inculturação integre a agenda prioritária de ações de pastoral não como uma opção, mas, pelo contrário, como  um imperativo intrínseco ao anúncio evangélico.

Diálogo ecuménico e inter-religioso
O diálogo ecuménico visa a unidade dos cristãos (católicos, evangélicos e ortodoxos) e corresponde à oração do Senhor Jesus que pediu ao Pai: “Que todos sejam um só” (Jo 17, 21). O escândalo da divisão entre cristãos é um dos maiores obstáculos à credibilidade do anúncio cristão.
O diálogo inter-religioso acontece com os fiéis de outras religiões (Judaísmo, Islamismo, Budismo, Hinduísmo e religiões tradicionais). Neste caso, o diálogo assume a forma de escuta respeitosa do outro, com vista à uma recíproca purificação e um mútuo enriquecimento.
O diálogo não nasce da tática ou do interesse, mas é uma atividade que tem as suas próprias motivações, exigências e dignidade; é requerido pelo profundo respeito por tudo aquilo que no homem tem operado o Espírito, que sopra onde quer. Com ele, a Igreja entende descobrir os germes do Verbo (semina Verbi), os raios da Verdade que ilumina todos os homens (ver RM 56).
O Sínodo incentiva o diálogo ecuménico e inter-religioso como ação importante para a Igreja Católica na Guiné-Bissau, no respeito pelas diferenças e na valorização do sentimento religioso e do papel das Igrejas para a construção de uma sociedade alicerçada na tolerância, no amor ao próximo e na convivência pacífica.   
Reconciliação
Sendo a reconciliação um fruto da graça de Deus que nos dá um coração novo e nos reconcilia com Ele e com os outros (cf. AfM 20), ela exige um ato corajoso e honesto. Na Guiné-Bissau todo o mundo afirma querer a reconciliação e a paz, mas muito poucos estão dispostos a pagar os seus preços. O Sínodo recomenda uma reconciliação autêntica, que gera uma paz duradoura na sociedade guineense, cura as memórias feridas, reaproxima as famílias e reúne os irmãos desavindos na promoção e defesa do Bem Comum. A reconciliação é saber perdoar em Cristo, é um ato de libertação e renovação do nosso coração.


A família
No plano Divino, desde os primórdios (Gen 1-2) a família é chamada a uma vocação altíssima: ser na terra o “reflexo vivente” de Deus Trindade, quer dizer, comunhão de amor (ver AmL 11). Que a fidelidade e os valores morais sejam cultivados nas famílias - pilares da formação integral para a vivência na paz e amor, e amor ao próximo. 
O Sínodo recomenda promover e proteger as famílias como Igreja doméstica e torná-las conscientes dos dons que receberam de Deus para a sua missão específica na Igreja. Ele entende que a formação das famílias deve ser uma prioridade na ação pastoral.


A educação
Que o nosso sistema de educação seja capaz de “trazer para fora” riquezas que cada aluno ou estudante tem dentro dele. Os sinodais apontam para a necessidade de reestruturar a nossa ação no domínio da educação, formar e capacitar os professores católicos e não esquecer que a escola é um dos novos “areópago”, isto é, um dos lugares para o qual a atenção evangelizadora se deve voltar. O Sínodo recomenda que seja redinamizada e robustecida a ação pastoral no domínio da educação para que seja cada vez mais ativa e presente a ação evangelizadora da Igreja. Ele encoraja os pais a assumirem plenamente as suas condições de primeiros educadores dos seus filhos. Igualmente exorta a sociedade guineense a abrir-se cada vez mais para a educação, enquanto meio de transformação e desenvolvimento social,  económico, e valorização humana.
A saúde
Que os hospitais sob a tutela da Igreja católica e também os hospitais públicos e privados sejam lugares de demonstração de verdadeiro amor ao próximo e da misericórdia de Deus, e uma referência em termos de limpeza, eficiência e transparência. O Sínodo recomenda que a ação pastoral no domínio da saúde tenha em atenção a informação e formação sobre os cuidados primários da saúde e a prevenção em saúde pública, e também que os valores éticos e morais orientem a atuação dos profissionais de saúde.

A informação e a comunicação
O Sínodo debruçou-se sobre a utilização dos meios de comunicação social existentes nas Dioceses como instrumentos da missão evangelizadora. Reconheceu o importante papel da Rádio Sol Mansi e referiu a necessidade de uma presença mais ativa nos outros meios de informação disponíveis nas redes sociais. Os sinodais apontaram para a necessidade de aproveitar bem a Rádio Sol Mansi e demais meios de comunicação para a ação evangelizadora e para ajudar na humanização da sociedade guineense, fomentando a coesão, unidade nacional, paz, reconciliação nacional, diálogo inter-religioso. O Sínodo recomendou, ainda, redinamização das Comissões Inter-Diocesana e sectoriais da comunicação social e chamou atenção para a necessidade de criação de uma televisão católica nacional para efeitos de uma ação pastoral mais abrangente e diversificada.

Desenvolvimento integral
O desenvolvimento não se reduz a um simples crescimento económico. Para ser autêntico, deve ser integral, quer dizer, promover todos os homens e o homem todo.
“O desenvolvimento dos povos, especialmente daqueles que se esforçam por afastar a fome, a miséria, as doenças endémicas, a ignorância; que procuram uma participação mais ampla nos frutos da civilização, uma valorização mais ativa das suas qualidades humanas; que se orientam com decisão para o seu pleno desenvolvimento, é seguido com atenção pela Igreja.” (PP 1)
A Igreja está comprometida, à imagem do seu Salvador, na luta pela justiça, pela paz e pelo verdadeiro desenvolvimento das pessoas e dos povos.
Através da Caritas e das comissões Justiça, Paz, Direitos humanos e Desenvolvimento, a nossa Diocese procura promover as pessoas, sobretudo as  de categorias mais desfavorecidas, tais como as crianças, as mulheres, os velhos, os presos e os marginalizados.
O Sínodo recomenda que o homem, (para o seu bem estar e a sua dignidade), seja colocado no centro das estratégias de desenvolvimento e das demais políticas públicas.

EXORTAÇÃO SINODAL PARA A SOCIEDADE GUINEENSE

O povo sofre e a Igreja peregrina sofre com ele, com Cristo e em Cristo.
A Guiné-Bissau vive mais um momento particularmente difícil da sua história recente, a qual coloca em risco a convivência pacífica entre irmãos, a normalidade da vida pública, a proteção dos direitos e liberdades dos cidadãos, o bem estar das famílias, assim como alarga cada vez mais o mar de incertezas e frustrações, e aumenta as vulnerabilidades sociais e económicas na sociedade guineense e aprofunda a instabilidade social. O Sínodo acompanha com preocupação,
- a persistência da crise política e governativa, o impasse político que mina o diálogo entre os principais atores políticos e o relacionamento inter-institucional entre os órgãos de soberania;
- a elevação da tensão política que aprofunda as contradições e divide profundamente a sociedade guineense neste momento;
- a dificuldade da classe política guineense em corresponder às legítimas expectativas dos cidadãos de governação em paz, segurança e progresso e de construir consensos políticos em prol dos desígnios nacionais;
- as derivas políticas e a escalada de pronunciamentos políticos que põem em causa a coesão social e a unidade nacional, valores que alicerçam a sociedade guineense;
- as dificuldades de diálogo que se agravam entre a comunidade internacional e as autoridades do país, e que atentam contra a presença e participação do nosso país no concerto das Nações e no espaço de integração sub-regional.

Assim, atentos à acentuada deterioração da vida das populações causada pela prolongada e desgastante crise político-institucional que há quase dois anos tem paralisado o país e põe em causa a coesão social e a unidade nacional, dividindo e ferindo gravemente o tecido social guineense, os  sinodais exortam:
1. Os políticos guineenses para que encontrem no diálogo, na reconciliação, no amor ao próximo e no serviço público as ferramentas fundamentais para as suas missões de servir com empenho, dedicação plena e abnegação os anseios do povo guineense. 
2. A classe política e o Governo guineenses para que estejam à altura das suas responsabilidades e que as esperanças dos guineenses não sejam, mais uma vez, adiadas.

3. Os guineenses para que continuem a ter esperanças num país melhor, que continuem a lutar pelo respeito dos seus direitos e liberdades fundamentais, e que sejam obreiros da paz e da reconciliação.

4. A comunidade internacional para que continue firme e coerente no apoio ao processo de estabilidade política e governativa na Guiné-Bissau e que mantenha a ajuda pública para aliviar o sofrimento das populações.

5. O Governo para encontrar, com brevidade, uma solução eficaz e duradoura para normalizar o setor do ensino, acabando de vez com as greves neste importante  setor da vida social, pois a educação é um bem público, um direito humano universal, e um dever do Estado e um direito dos seus cidadãos.

“Felizes os construtores da Paz, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9)

Bissau, 1 de Junho 2017

Os Sinodais

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