DIOCESE
DE BISSAU
SÍNODO
DIOCESANO 2017
A Diocese de Bissau, fiel à
sua missão, reuniu-se em Sínodo, segunda sessão, de 29 de Maio a 1 de Junho do
ano em curso, sob o tema “Nova Evangelização”.
O Sínodo Diocesano é uma
ocasião favorável para a família diocesana rever criticamente o estado do ser e
agir como cristão, bem como a presença testemunhal da proximidade do Reino de
Deus, através da conversão e fé no Evangelho.
O caminho sinodal é uma das
missões da Igreja peregrina, numa busca permanente do bem da comunidade na
missão evangelizadora, envolvendo todos os católicos e as estruturas pastorais
no anúncio do Evangelho, num contexto que coloca perante a ação pastoral
vários e sérios desafios. A falta de amor que conduz ao perdão, a fraca integração
de culturas locais no processo de evangelização, a presença notória e
ameaçadora do sincretismo religioso, a fragilidade da fé de muitos cristãos, a
desconexão entre a fé e a razão, a vergonha de testemunhar com coerência a
própria fé, a grave passividade em relação à missão que Jesus nos confiou, a
crise de valores e de referências que afetam particularmente a juventude, e as
ameaças à dignidade humana e ao desenvolvimento integral do homem na nossa
sociedade, são desafios que interpelam a Igreja Católica na Guiné-Bissau e para
os quais a comunidade diocesana é chamada a refletir profundamente e a
procurar respostas, através da definição de linhas concretas de ação pastoral.
Estes e outros problemas, que
traduzem-se na crise da fé, e a complexidade crescente da missão evangelizadora
da Igreja local face às mutações da realidade social e cultural na sociedade
guineense, interpelam não só o Bispo, mas também toda a família diocesana e as
estruturas e métodos pastorais, exigindo respostas adequadas, inadiáveis e
exequíveis.
Fiéis ao modelo da nossa vida
que é e deve ser sempre Jesus Cristo - Homem Novo e fermento da nova humanidade
onde reina o amor, a paz e a justiça, e fortalecidos com a ajuda do Espírito
Santo nos trilhos e na ceara da Nova Evangelização- estamos convencidos que é
possível seguir o caminho de Deus, Nosso Senhor, que torna a vida feliz e
fecunda, e que permite alcançar uma vivência com melhores qualidades cristãs e
uma maior dignidade para o homem.
O Sínodo é, assim, um momento comunitário
especial de reflexão profunda, partilha solidária e trabalho fecundo, bem como
de oração para que com o Dom do Espírito Santo os sinodais (participantes no
Sínodo) tenham a bênção de realizar a vontade Divina na missão evangelizadora.
Por isso, o Sínodo é (um momento de) esperança, renovação e fortalecimento do compromisso da
comunidade diocesana com a missão da Igreja.
Nesta segunda sessão dos
trabalhos do Sínodo, os sinodais, empenhados na procura de maneiras de mostrar
Jesus aos que O procuram na Guiné-Bissau (terra ainda de missão), tiveram a
oportunidade de refletir, opinar, debater e aprender em comunidade sobre os
seguintes sub-temas que compõem a agenda de trabalhos:
O termo inculturação é muito recente e significa a
encarnação do Evangelho nas diversas culturas e simultaneamente a introdução
dos diversos povos com as suas culturas dentro da Igreja. Trata-se de um
processo lento e difícil, que requer muita paciência, discernimento e
competência.
Em seu correto desenvolvimento, a inculturação deve ser
guiada por dois princípios: “a compatibilidade com o Evangelho e a comunhão com
a Igreja universal”.
Tal processo requer gradualidade e deve envolver todo o
povo de Deus, e não apenas alguns peritos, dado que o povo reflete aquele
sentido da fé que nunca se há-de perder de vista (RM 52-54).
O Sínodo recomenda que a inculturação integre a agenda
prioritária de ações de pastoral não como uma opção, mas, pelo contrário, como um imperativo intrínseco ao anúncio evangélico.
Diálogo ecuménico e inter-religioso
O diálogo ecuménico visa a unidade dos cristãos
(católicos, evangélicos e ortodoxos) e corresponde à oração do Senhor Jesus que
pediu ao Pai: “Que todos sejam um só” (Jo 17, 21). O escândalo da
divisão entre cristãos é um dos maiores obstáculos à credibilidade do anúncio
cristão.
O diálogo inter-religioso acontece com os fiéis de
outras religiões (Judaísmo, Islamismo, Budismo, Hinduísmo e religiões
tradicionais). Neste caso, o diálogo assume a forma de escuta respeitosa do
outro, com vista à uma recíproca purificação e um mútuo enriquecimento.
O diálogo não nasce da tática ou do interesse, mas é uma
atividade que tem as suas próprias motivações, exigências e dignidade; é
requerido pelo profundo respeito por tudo aquilo que no homem tem operado o
Espírito, que sopra onde quer. Com ele, a Igreja entende descobrir os germes do
Verbo (semina Verbi), os raios da Verdade que ilumina todos os homens
(ver RM 56).
O Sínodo incentiva o diálogo ecuménico e inter-religioso
como ação importante para a Igreja Católica na Guiné-Bissau, no respeito pelas
diferenças e na valorização do sentimento religioso e do papel das Igrejas para
a construção de uma sociedade alicerçada na tolerância, no amor ao próximo e na
convivência pacífica.
Sendo a reconciliação um fruto da graça de Deus que nos
dá um coração novo e nos reconcilia com Ele e com os outros (cf. AfM 20), ela
exige um ato corajoso e honesto. Na Guiné-Bissau todo o mundo afirma querer a
reconciliação e a paz, mas muito poucos estão dispostos a pagar os seus preços.
O Sínodo recomenda uma reconciliação autêntica, que gera uma paz duradoura na
sociedade guineense, cura as memórias feridas, reaproxima as famílias e reúne
os irmãos desavindos na promoção e defesa do Bem Comum. A reconciliação é saber
perdoar em Cristo, é um ato de libertação e renovação do nosso coração.
A família
No plano Divino, desde os primórdios (Gen 1-2) a família é chamada
a uma vocação altíssima: ser na terra o “reflexo vivente” de Deus Trindade,
quer dizer, comunhão de amor (ver AmL 11). Que a fidelidade e os valores morais
sejam cultivados nas famílias - pilares da formação integral para a vivência na
paz e amor, e amor ao próximo.
O Sínodo recomenda promover e proteger as famílias como
Igreja doméstica e torná-las conscientes dos dons que receberam de Deus para a
sua missão específica na Igreja. Ele entende que a formação das famílias deve
ser uma prioridade na ação pastoral.
A educação
Que o nosso sistema de educação seja capaz de “trazer
para fora” riquezas que cada aluno ou estudante tem dentro dele. Os sinodais
apontam para a necessidade de reestruturar a nossa ação no domínio da educação,
formar e capacitar os professores católicos e não esquecer que a escola é um
dos novos “areópago”, isto é, um dos lugares para o qual a atenção
evangelizadora se deve voltar. O Sínodo recomenda que seja redinamizada e
robustecida a ação pastoral no domínio da educação para que seja cada vez mais ativa
e presente a ação evangelizadora da Igreja. Ele encoraja os pais a assumirem
plenamente as suas condições de primeiros educadores dos seus filhos.
Igualmente exorta a sociedade guineense a abrir-se cada vez mais para a
educação, enquanto meio de transformação e desenvolvimento social, económico, e valorização humana.
A saúde
Que os hospitais sob a tutela da Igreja católica e também
os hospitais públicos e privados sejam lugares de demonstração de verdadeiro
amor ao próximo e da misericórdia de Deus, e uma referência em termos de
limpeza, eficiência e transparência. O Sínodo recomenda que a ação pastoral no
domínio da saúde tenha em atenção a informação e formação sobre os cuidados
primários da saúde e a prevenção em saúde pública, e também que os valores
éticos e morais orientem a atuação dos profissionais de saúde.
A informação e a comunicação
O Sínodo debruçou-se
sobre a utilização dos meios de comunicação social existentes nas Dioceses como
instrumentos da missão evangelizadora. Reconheceu o importante papel da Rádio Sol
Mansi e referiu a necessidade de uma presença mais ativa nos outros meios de
informação disponíveis nas redes sociais. Os sinodais apontaram para a
necessidade de aproveitar bem a Rádio Sol Mansi e demais meios de comunicação
para a ação evangelizadora e para ajudar na humanização da sociedade guineense,
fomentando a coesão, unidade nacional, paz, reconciliação nacional, diálogo
inter-religioso. O Sínodo recomendou, ainda, redinamização das Comissões
Inter-Diocesana e sectoriais da comunicação social e chamou atenção para a
necessidade de criação de uma televisão católica nacional para efeitos de uma ação
pastoral mais abrangente e diversificada.
Desenvolvimento integral
O desenvolvimento
não se reduz a um simples crescimento económico. Para ser autêntico, deve ser
integral, quer dizer, promover todos os homens e o homem todo.
“O
desenvolvimento dos povos, especialmente daqueles que se esforçam por afastar a
fome, a miséria, as doenças endémicas, a ignorância; que procuram uma
participação mais ampla nos frutos da civilização, uma valorização mais ativa
das suas qualidades humanas; que se orientam com decisão para o seu pleno
desenvolvimento, é seguido com atenção pela Igreja.” (PP 1)
A Igreja está
comprometida, à imagem do seu Salvador, na luta pela justiça, pela paz e pelo
verdadeiro desenvolvimento das pessoas e dos povos.
Através da Caritas
e das comissões Justiça, Paz, Direitos humanos e Desenvolvimento, a
nossa Diocese procura promover as pessoas, sobretudo as de categorias mais desfavorecidas, tais como
as crianças, as mulheres, os velhos, os presos e os marginalizados.
O Sínodo
recomenda que o homem, (para o seu bem estar e a sua dignidade), seja colocado
no centro das estratégias de desenvolvimento e das demais políticas públicas.
EXORTAÇÃO SINODAL PARA A SOCIEDADE GUINEENSE
O povo sofre e a
Igreja peregrina sofre com ele, com Cristo e em Cristo.
A Guiné-Bissau
vive mais um momento particularmente difícil da sua história recente, a qual coloca
em risco a convivência pacífica entre irmãos, a normalidade da vida pública, a
proteção dos direitos e liberdades dos cidadãos, o bem estar das famílias, assim
como alarga cada vez mais o mar de incertezas e frustrações, e aumenta as
vulnerabilidades sociais e económicas na sociedade guineense e aprofunda a
instabilidade social. O Sínodo acompanha com preocupação,
- a persistência
da crise política e governativa, o impasse político que mina o diálogo entre os
principais atores políticos e o relacionamento inter-institucional entre os órgãos
de soberania;
- a elevação da
tensão política que aprofunda as contradições e divide profundamente a
sociedade guineense neste momento;
- a dificuldade
da classe política guineense em corresponder às legítimas expectativas dos
cidadãos de governação em paz, segurança e progresso e de construir consensos
políticos em prol dos desígnios nacionais;
- as derivas
políticas e a escalada de pronunciamentos políticos que põem em causa a coesão
social e a unidade nacional, valores que alicerçam a sociedade guineense;
- as dificuldades
de diálogo que se agravam entre a comunidade internacional e as autoridades do
país, e que atentam contra a presença e participação do nosso país no concerto
das Nações e no espaço de integração sub-regional.
Assim, atentos à acentuada
deterioração da vida das populações causada pela prolongada e desgastante crise
político-institucional que há quase dois anos tem paralisado o país e põe em
causa a coesão social e a unidade nacional, dividindo e ferindo gravemente o
tecido social guineense, os sinodais exortam:
1. Os políticos
guineenses para que encontrem no diálogo, na reconciliação, no amor ao próximo
e no serviço público as ferramentas fundamentais para as suas missões de servir
com empenho, dedicação plena e abnegação os anseios do povo guineense.
2. A classe
política e o Governo guineenses para que estejam à altura das suas
responsabilidades e que as esperanças dos guineenses não sejam, mais uma vez, adiadas.
3. Os guineenses
para que continuem a ter esperanças num país melhor, que continuem a lutar pelo
respeito dos seus direitos e liberdades fundamentais, e que sejam obreiros da
paz e da reconciliação.
4. A comunidade
internacional para que continue firme e coerente no apoio ao processo de
estabilidade política e governativa na Guiné-Bissau e que mantenha a ajuda
pública para aliviar o sofrimento das populações.
5. O Governo para
encontrar, com brevidade, uma solução eficaz e duradoura para normalizar o setor
do ensino, acabando de vez com as greves neste importante setor da vida social, pois a educação é um
bem público, um direito humano universal, e um dever do Estado e um direito dos
seus cidadãos.
“Felizes os
construtores da Paz, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9)
Bissau, 1 de Junho 2017
Os Sinodais
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