terça-feira, 5 de julho de 2022

O presidente Sissoko minimiza assalto à igreja de Gabú

O presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, desvaloriza a vandalização da Igreja Católica de Gabu, diocese de Bafatá, que foi alvo de ataque por um grupo de pessoas desconhecidas.

"Quantas vezes as mesquitas foram roubadas aqui? Se a Igreja for alvo de roubo têm que deixar a polícia fazer o seu trabalho. Se a Igreja foi vandalizada é coisa do outro mundo? Quantas vezes roubaram relógios [de parede], ventoinhas ou aparelhos de ar condicionado nas mesquitas? As pessoas têm que parar com tretas, até no Vaticano e na Meca as pessoas roubam, será que é coisa de outro mundo?", assumiu o chefe de Estado, Umaro Sissoco Embaló, que falava, ontem a noite, em declaração aos jornalistas no aeroporto internacional Osvaldo Vieira, proveniente de Gana, onde participou na cimeira dos chefes de Estado e do Governo da CEDEAO.

“PR TEM UMA SAÍDA DESASTROSAS”, diz analista

Entretanto, convidado para analisar esta posição do presidente da República, o politólogo guineense e comentador dos assuntos políticos da Rádio Sol Mansi, Rui Jorge Semedo, considera de “triste e vergonhosa” a posição assumida por Umaro Sissoco Embaló em relação a episódio ocorrido na Igreja de Gabu.

“Uma declaração muito triste e vergonhosa, um presidente da República constitucionalmente símbolo da unidade nacional tem a responsabilidade de ter um discurso alinhado com a paz, unidade, harmonia e desenvolvimento, mas quando faz uma comparação que não tem nada a ver, furto de sapato e relógio [de parede] com um ato de terrorismo, de vandalismo e de violência então aí ficamos todos triste, porque esperávamos tudo do nosso presidente, menos essa saída, ele [PR] no mínimo o que podia fazer é tentar fazer a correção e pedir desculpa à Igreja católica se realmente existem os conselheiros”, aconselha o politólogo.

Rui Jorge Semedo lembra ainda que não é a primeira e nem a segunda vez que o PR tem uma “saída desastrosas” que acaba por pôr em causa todos os esforços da unidade nacional.

“O presidente da República é único que está em contramão do episódio, e o próprio ministro da Administração Territorial teve uma comunicação e posição brilhante e vimos outros cidadãos inclusive a família do regulado de Gabu, a comunidade muçulmana e outras individualidade unidos a condenar esse tipo de comportamento na Guiné-Bissau e se o presidente da República vem comparar roubo do relógio e do chinelo com um atentado muitíssimo grave que espantou toda a sociedade então é muito preocupante e é preciso chamá-lo a responsabilidade”, sustenta Rui Jorge Semedo.    

Ainda sobre o mesmo assunto, a RSM tentou mas ainda sem sucesso ouvir a reação da Liga Guineenses dos Direitos Humanos e as Organizações da Sociedade Civil agrupadas no Espaço da Concertação Social.

Na sexta-feira, a Paróquia Santa Isabel de Gabu, diocese de Bafatá, foi encontrada totalmente vandalizado por um grupo de pessoas ainda desconhecido, os mentores do ato mandaram o altar abaixo, partiram uma imagem de nossa senhora e levaram outra que depois foi encontrada no quintal do governador de Gabu e o sacrário não foi tocado, segundo explica, o padre Paulo de Pina enviado pelo administrador da diocese de Bafatá.

No dia seguinte, o ministro da Administração Territorial esteve na Igreja vandalizada e prometeu que dentro de alguns dias serão conhecidos os resultados preliminares do inquérito do caso.

Até neste momento segundo as informações recolhidas pela Rádio Sol Mansi, a partir de Gabu, não há nenhum detido ligado ao ataque.

Por: Braima Sigá (Radio Sol Mansi)

A igreja de Gabú é vandalizada por desconhecidos

Continuam por apurar as circunstâncias do ataque a uma igreja católica no leste da Guiné-Bissau. É o primeiro ataque do género e está a inquietar a sociedade. O Presidente Sissoco não está a dar importância ao sucedido.

É um caso inédito na Guiné-Bissau e está a chocar a sociedade, desde que foi denunciado e desde que foram postas a circular, nas redes sociais, imagens da igreja vandalizada.

Tudo aconteceu na noite da passada sexta-feira (01.07), na cidade de Gabú, leste da Guiné-Bissau, a cerca de 200 quilómetros da capital guineense, quando um grupo de desconhecidos atacou e vandalizou a Paróquia Santa Isabel.

"Quase tudo destruído"

Os vândalos destruíram quase tudo no interior da igreja, desde o altar, a Cruz Peregrina e até a imagem de "Nossa Senhora", que para os cristãos é sagrada. Alguns objetos foram destruídos e deixados no exterior da paróquia.

O padre Paulo de Pina Araújo, da Diocese de Bafatá, que alberga a Paróquia Santa Isabel, não tem dúvidas sobre o sucedido: "Essa pessoa [que fez o ataque], acho que foi motivada por um tipo de ódio. Agora, não sabemos se um ódio religioso ou de caráter político, não sabemos a razão, mas é um ódio que levou a pessoa a fazer isso, porque não roubou e não tirou nada da igreja para si."

 


No interior da igreja de Santa Isabel, em Gabú, 

praticamente nada escapou à ira dos atacantes

Primeiro ataque do género no país

Em Gabú e em toda a Guiné-Bissau não há registo de um conflito inter-religioso nem de ataques a qualquer lugar de culto. A laicidade do Estado guineense e a existência de mais de duas dezenas de etnias no país foram sempre motivo de elogios por líderes religiosos, tendo em conta a "boa convivência" que se regista entre os cidadãos.

Em reação à vandalização da Paróquia Santa Isabel, de Gabú, o Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, desvalorizou o sucedido, em declarações aos jornalistas, no Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira, após a sua chegada do Gana, onde participou, este fim-de-semana, na Cimeira dos Chefes de Estados da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).

"Quantas vezes as mesquitas foram roubadas aqui? Se a igreja foi roubada têm que deixar a Polícia fazer o seu trabalho. Se a igreja foi vandalizada é coisa do outro mundo? Quantas vezes roubaram relógios [de parede], ventoinhas ou aparelhos de ar condicionado em mesquitas? As pessoas têm que parar com tretas, até no Vaticano e em Meca as pessoas roubam, será que é coisa de outro mundo?", declarou o líder guineense.

Apelos a investigação exaustiva

Neste momento, multiplicam-se os apelos à investigação das autoridades policiais. O pedido foi reforçado à DW África pelo presidente da Confederação da Juventude Islâmica (CNJI-GB), Hamza Seidi, que fala num ato de terror.

"Enquanto Confederação Nacional da Juventude Islâmica da Guiné-Bissau, condenamos com toda a veemência [este o ato], porque nada justifica [o ataque]. A Guiné-Bissau é um país laico e não podemos permitir que um ato do gênero aconteça neste país. Por isso, exigimos às autoridades competentes que investiguem e responsabilizem as pessoas envolvidas neste ato que consideramos de terror", sublinhou.

As informações sobre os responsáveis do ataque à igreja são escassas, mas a DW sabe que a Polícia Judiciária (PJ) já está a investigar o caso. Apesar da vandalização, a igreja atacada celebrou a missa normalmente, este domingo, sem vários dos seus objetos que foram destruidos.