Queridos irmãos e irmãs,
Com esta solene
concelebração inauguramos a primeira sessão do primeiro Sínodo Diocesano de
Bissau, que tem como tema: «A Nova Evangelização». Esta temática responde a uma
orientação programática para a vida da nossa Igreja, de todos os seus membros,
das famílias, comunidades, e das suas instituições. Tal perspectiva se reforça
pela coincidência com o início da celebração do 40º aniversário da criação da
Diocese de Bissau, ao longo deste ano.
As leituras bíblicas, que
compõem a Liturgia da Palavra desta missa de abertura do Sínodo, oferecem-nos
dois pontos principais de reflexão: o primeiro sobre o anúncio do Evangelho e o
segundo sobre a necessidade do diálogo, da fraternidade e da reconciliação.
1. Anúncio do Evangelho e
testemunho de vida.
«Ide pelo mundo e anunciai a Boa Nova a toda a criatura» (Mc 16,
15): tal é o mandato que Jesus ressuscitado, antes de subir ao Pai, deixou aos
Apóstolos. «E eles, partindo, foram
pregar por toda a parte» (Mc 16, 20).
A tarefa de evangelizar
todos os homens constitui a missão essencial da Igreja. Evangelizar constitui,
de facto, a sua identidade mais profunda. Ela existe para evangelizar. Como o
Apóstolo Paulo, a Igreja pode dizer: «Porque,
se anuncio Evangelho, não é para mim um motivo de glória, é antes uma obrigação
que me foi imposta: ai de mim, se eu não evangelizar» (1Cor 9, 16).
A Igreja anuncia a Boa Nova
não só através da proclamação da palavra que recebeu do Senhor, mas também
mediante o testemunho de vida, pelo qual os discípulos de Cristo dão razão da
fé, da esperança e do amor que neles existe (cf. 1 Ped 3, 15). Testemunhar o
Evangelho com a palavra e as obras: eis a incumbência que a Igreja recebeu e
que quer transmitir a cada baptizado.
À África oprimida por todo
o lado por germens de ódio e violência, por conflitos e guerras, os
evangelizadores devem proclamar a esperança da vida, radicada no mistério
pascal. Precisamente quando a sua vida parecia, humanamente falando, condenada
à derrota, é que Jesus instituiu a Eucaristia, para perpetuar no tempo e no
espaço, a sua vitória sobre a morte. Por isso mesmo, este Sínodo, neste período
em que a África em geral, e o nosso país em particular, sob determinados
aspectos, se encontram em condições críticas, o nosso Sínodo quer apresentar-se
como Sínodo da ressurreição e da esperança: Cristo, nossa Esperança, está vivo!
É necessário, portanto, que
a nova evangelização seja centrada no encontro com a pessoa de Cristo. O
primeiro anúncio deve ter como meta levar a fazer a experiência encantadora de
Jesus Cristo. Tarefa esta, singularmente facilitada pelo facto de que o
africano crê em Deus criador a partir da sua vida e da sua religião
tradicional. E assim está aberto também à plena revelação de Deus em Jesus
Cristo, o Deus-connosco. Jesus, a Boa Nova, é Deus que salva o homem africano
da opressão e da escravatura.
A evangelização deve
atingir o homem e a sociedade em todos os níveis da sua existência. Ela
exprime-se, portanto, em actividades diversas, nomeadamente nas que foram
tomadas especificamente em consideração por este sínodo: anúncio,
reconciliação, família, educação, saúde, meios de comunicação social, justiça,
inculturação, diálogo, etc.
2. Necessidade do diálogo,
da fraternidade e da reconciliação.
A primeira de leitura de
hoje nos mostra como as consequências do pecado “original” continuam na geração
seguinte. Abel é um exemplo, tal como milhões de pessoas inocentes ao longo da história até aos nossos
dias foram vítimas da violência.
A história de Caim e Abel
pode-se aplicar a cada um de nós, dado que o que é verdadeiro para Caim também
o é para nós: quando experimentamos o ódio para os outros, quando nos
encontramos em contraste com os outros, muitas das vezes não é porque nos fazem
mal, mas porque não somos bons, não conseguimos suportar-lhes.
Temos o melhor comentário desta página do
Génesis na primeira carta de S. João, que nos faz ver que a razão do homicídio
cometido por Caim é a malícia, a malvadez. O inocente é morto pelo malvado, é odiado
porque faz o bem: «Caim que, sendo do
Maligno, assassinou o seu irmão. E porque o assassinou? Porque as suas obras
eram más, ao passo que as do irmão eram boas» (1Jo 3,12).
O pecado, o ódio gera morte. É a primeira
morte violenta na humanidade: o homicídio, o fratricídio. Se todos os homens
são irmãos, todo o homicídio é um fratricídio. O homicídio nasce do ódio. O
ódio é homicida desde o princípio. O ódio pode manifestar-se sob forma de
rancor, antipatia, desprezo, desinteresse. Numa palavra, na não aceitação do
lugar e da função do irmão.
Mas perante esta injustiça
e violência, Deus não é indiferente, Ele fala e pede razão: «Onde está o teu irmão Abel?» (Gn 4, 9).
Abel morreu, mas a sua voz se faz ouvir: «A
voz do sangue do teu irmão clama da terra até mim» (Gn 4, 10). E a voz do sangue é ainda mais forte. Esta
voz grita não para pedir vingança, mas misericórdia e amor.
O desafio do diálogo, do
perdão, da fraternidade, da reconciliação, é fundamentalmente o desafio da
transformação das relações entre os homens, entre as nações e entre os povos, na vida religiosa,
económica, política, social e cultural. É o desafio do amor de Cristo por todos
os homens, amor que o seu discípulo deve reproduzir na vida.
A evangelização continua o
diálogo de Deus com a humanidade, um diálogo que atinge o seu cume na Pessoa de Jesus Cristo. Por meio da cruz,
Ele destruiu em Si mesmo a inimizade (cf. Ef 2, 16) que divide e afasta os
homens uns dos outros.
Apesar de falarmos hoje de
fraternidade, solidariedade, em África, como aliás noutras partes do mundo, o
espírito de diálogo, de paz, de perdão e reconciliação ainda está longe de
habitar no coração de todos os homens. As guerras, os conflitos, os
comportamentos racistas e xenófobos ainda dominam demasiadamente o mundo das
relações humanas.
A Igreja em África sente a
exigência de se tornar lugar de autêntica reconciliação para todos, graças ao
testemunho dado pelos seus filhos e filhas. Deste modo, mutuamente perdoados e
reconciliados, poderão levar ao mundo o perdão e a reconciliação, que Cristo,
nossa Paz (cf. Ef 2, 14), oferece à humanidade, através da sua Igreja.
Caso contrário, o mundo
assemelhar-se-á cada vez mais a um campo de batalha no qual contam apenas os
interesses egoístas e onde predomina a lei da força, que afasta inexoravelmente
a humanidade da desejada civilização do amor.
A Igreja é chamada a ser
instrumento do perdão de Deus na vida dos indivíduos e dos povos. As situações
actuais das sociedades africanas e do nosso país em particular, obrigam a Igreja
a pôr no centro da sua pregação e da sua acção a oferta do perdão de Deus. Como
Igreja, somos todos chamados a quebrar as barreiras que não favorecem a unidade,
a reconciliação, a paz e a justiça na nossa sociedade.
Estou pronto a sacrificar
algo de mim mesmo para ser instrumento de justiça, de não-violência e de paz na
minha comunidade ou no meu local de trabalho? Cada um é chamado a utilizar os
seus próprios recursos para ajudar a Igreja e a sociedade inteira do nosso país
a sair das suas crises.
Queridos irmãos e irmãs,
confiamos a Deus o trabalho deste primeiro Sínodo Diocesano, com o sentimento
vivo da comunhão dos santos invocando, em particular, a intercessão dos grandes
santos evangelizadores. Colocamo-nos sob a proteção da Virgem Maria, Estrela da
nova evangelização. Com ela, invocamos uma especial efusão do Espírito Santo,
que ilumine do alto a nossa Assembleia sinodal e a torne fecunda para o caminho
da nossa Igreja.
Paróquia S. João
Baptista de Brá em Bissau, 13 Fevereiro de 2017
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