quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Mensagem dos Bispos da Guiné-Bissau


Carta pastoral 

Eleições legislativas 2019


“O futuro da nação está no teu voto livre e consciente”


Aos Religiosos
Aos Políticos e Governantes,
Aos Homens e Mulheres de boa vontade


No próximo dia 10 de março, o nosso povo é convocado, mais uma vez, a exercer a sua soberania, no processo de escolha dos seus futuros dirigentes e, dada a importância social e política que as Eleições Legislativas revestem para o nosso país, não podíamos ficar indiferentes.
Como  pastores,  nós,  os  Bispos  da  Guiné-Bissau, sentimos  o  dever  de proporcionar aos nossos fiéis e aos demais homens e mulheres de boa vontade, um contributo que os ajude a exercer o seu direito em consciência e liberdade.
A mensagem que se dirige aos homens e mulheres desta nação, insere-se num facto inegável de desânimo de alguns de nossos iros e irmãs que, no início deste processo de recenseamento, se manifestaram pticos pelo ato, porque nenhuma legislatura chegou ao seu fim.
O comportamento da classe política guineense, que não não tem sido encorajador como desanimador, tem contribuído para o cnico e vicioso ciclo de instabilidade política e governativa.
O país vive, como consequência de todo esse conjunto de fatores, num clima de desconfiança generalizada, numa divisão insustentável quer entre os atores políticos quer entre a população e mesmo nas famílias, o que aumenta ainda mais a falta de esperança e confiança sobre uma possível mudança do estado actual.
Temos consciência que o povo vê o futuro com muita apreensão e frustração, pois a confiança, as expectativas e a esperança foram defraudadas: o nível da pobreza que tem aumentado, a qualidade da saúde e da educação, que são sectores chaves para o desenvolvimento de qualquer nação, estão numa situação caótica, quebrados e em crise.
É precisamente neste contexto dúbio, de desencanto, que o povo é chamado a decidir sobre o seu destino.


1. Com um olhar de esperança para o futuro


A esperança é a virtude que nunca tem faltado ao nosso povo. Cada vez que o país mergulha-se na crise e nos problemas; cada vez que o desespero bate à nossa porta, nasce sempre em nós uma luz de esperança, aquela esperança que nos vem de Deus e não nos engana (cf Rom.5,5). Acreditamos que Deus nos ama e caminha connosco.
A nossa fé, ime-nos que vos exortemos, a depositar a esperança em Deus nosso  Salvador,  a  nunca  se  desesperar,  porque  temos  certeza  que  Ele  está connosco, quer o bem desta nação e de cada um dos seus filhos.
Caros  irmãos  e  irmãs, como  crentes,  nós  temos conscncia que  Deus espera que vivamos a fé com responsabilidade, que não nos esqueçamos que Ele
dignifica os proventos tirados do trabalho.  Assim, como diz o ditado Si bu misti forel, para balai (Deus dá nozes, mas não as quebra): o país não vai mudar, a nossa
situação não se alterará se não fizermos, afincadamente, algo por isso. Coloquemos por isso, em Deus, as nossas ações, pedimos a Ele que ilumine a nossa escolha no
acto do voto. Que este voto seja a expressão do interesse comum.

2. Voto, expressão do respeito e a promoção do Bem Comum


Inspirando-nos no pensamento do Papa Francisco que afirma que o futuro das nações não está unicamente nas mãos dos seus dirigentes, mas sobretudo nas mãos dos povos, queremos aqui reafirmar o seguinte: o futuro deste país, que custou sangue e suor dos nossos antepassados, está sobretudo nas mãos do seu povo.
Somos chamados, mais uma vez, a votar, a decidir sobre o nosso futuro através do voto que deve constituir a expressão da promoção do Bem Comum que passa por politicas que privilegiam a pessoa humana o seu pleno desenvolvimento(cf.  Exortação da  Conferencia Episcopal do  Senegal, Mauritânia, Cabo  Verde  e Guiné-Bissau, para a Quaresma de 2018)
No exercício do nosso direito de voto, não entramos em comunhão com outros eleitores, independentemente das respectivas escolhas e convicção política, mas  determinamos também  o  futuro  do  nosso  povo,  em  conjunto,  pois   em conjunto, o  nosso  voto consegue representar um  sim  ou  um  não a  um  projeto apresentado pelos candidatos. O exercício do direito de voto exige de cada um de nós uma responsabilidade moral e social, deve representar sempre uma visão de desenvolvimento da nossa nação, de reconhecimento e de salvaguarda dos valores conquistados por todos aqueles que lutaram e lutam, se sacrificaram e se sacrificam para o bem de todos.
Não percamos de vista que o nosso voto terá sentido se for expressão de solidariedade para com o bem-estar para cada um de nós e daqueles que virão depois de nós. 
O voto determina o bem-estar do povo, d a necessidade de o seu exercício ser com responsabilidade e em consciência.

3. Votar segundo a própria consciência


A necessidade e a pobreza em que se encontra boa parte da população, leva atores políticos a se permitirem ofertas de bens materiais, com o intuito de corromper a sua consciência. Nesse período, acrescem a esta pobreza e necessidade, outras fragilidades: o baixo nível de formação, a maior consciência de pertença a um grupo étnico e religioso, e a falta de compromisso ético por parte de alguns políticos que claramente, aproveitam estas tendências tribais e religiosas em proveito próprio e em prejuízo do Estado.
Exortamos a população a não se deixar corromper pelos partidos políticos, porquanto equivaleria a vender a própria consciência, a ppria dignidade, valores que sempre foram muito caros aos homens e mulheres desse país.
O  guineense sempre  foi  caracterizado pela  solidariedade, por  um  olhar compassivo ao próximo, ao vizinho, ao irmão, aos spedes. Então não nos esqueçamos que deixar que o nosso voto seja dado em troca de bens materiais, não constitui apenas uma violência à nossa consciência, mas ainda um negar de solidariedade, de compaixão aos nossos próximos, uma perda da nossa identidade enquanto povo, um desprezo à humanidade de cada um de nós.
Vejamos, por isso, o perfil dos candidatos e os seus respectivos programas. Contribuamos  para  a  criação  de   uma  classe  política,  competente,  honesta, consciente dos valores da democracia, dos Direitos Humanos e preocupada com a promoção do Bem Comum.
Ergamo-nos, não obstante todos os motivos para desânimo, como uma só pessoa, como um único povo, para, de novo, escrevermos a nossa história com um olhar de esperança para o futuro.

4. Apelos


O Papa Francisco, na sua Mensagem para o Dia Mundial da Paz deste ano, propôs as «bem-aventuranças do político». Fazemos nosso o seu vibrante apelo:

§  “Bem-aventurado o político que tem uma alta noção e uma profunda consciência do seu papel.
§  Bem-aventurado o político de cuja pessoa irradia a credibilidade.
§  Bem-aventurado o político que trabalha para o bem comum e não para os próprios interesses.
§  Bem-aventurado o político que permanece fielmente coerente.
§  Bem-aventurado o político que realiza a unidade.
§  Bem-aventurado o político que está comprometido na realização duma mudança radical.
§  Bem-aventurado o político que sabe escutar.
§  Bem-aventurado o político que não tem medo


Apelamos ainda o seguinte:

o   que cada guineense assuma o voto como um ato sagrado de cidadania. Vamos votar, porque não é na nha boka ka sta la”, que vamos mudar o país;
o   que  os  Religiosos intensifiquem suas  orações para  que  o  ato  eleitoral decorra da melhor maneira possível, testemunhando que o bem do País está acima de qualquer outro interesse;
o   que haja respeito pelos adversários e sejam respeitadas as regras democráticas
o   que a campanha eleitoral transcorra num ambiente de paz verdadeira, sem qualquer recurso à violência física ou verbal, ameaças ou intimidações;
o   Que os candidatos saibam demonstrar apurada cultura política, pautando-se por uma campanha eleitoral pedagógica, elucidativa dos grandes desafios com que se depara o ps e abstendo-se de argumentos que atentem contra a unidade nacional;
o   que a recolha e controlo dos votos sejam efectivamente transparentes e que os resultados, assim legitimamente obtidos, sejam   respeitados por todos os candidatos e eleitores, em espírito de verdadeira democracia;
o   que as Forças de Ordem e Segurança, no seu ideal de sacrificar a vida em defesa da pátria e do seu povo,  garantam a integridade do território e a segurança efectiva dos cidadãos e dos seus bens;
o   que a Comunidade Internacional continue a manifestar e a reforçar o seu apoio à Guiné-Bissau para que possa, de fato, retomar o seu lugar no concerto das nações e ter condições propícias para investir no seu progresso.



Fazemos votos  para  que  as  Eleições Legislativas do  dia  10  de  Março, decorram num clima de paz, de liberdade, de estabilidade e de civismo, e sejam um marco importante para o desenvolvimento do nosso povo.



Que o Deus Criador e Todo-Poderoso abençoe a cada um de nós na Guiné-Bissau.





Bissau, 25 de fevereiro de 2019





Dom José Câmnate na Bissign              Dom Pedro Carlos Zilli
Bispo de Bissau                               Bispo de Bafatá

1 comentário:

  1. Oi Frei Renato,
    Muita saúde e determinação na sua incansável missão.
    Quero agradecer você por nos manter informado sobre atividades da nossa Igreja local.

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