sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Uma Provocação sobre o Diretório da Iniciação cristã dos adultos



A caminho do Sínodo


Uma Provocação sobre o Diretório da Iniciação cristã dos adultos: Qual a finalidade da caminhada de iniciação cristã? Encontrar a Cristo e ser nele “enxertados”, “enraizados”. Ver passagens do NT:
a)      Col 2,5-7.8-21 passim; "Irmãos, assim como recebestes Cristo Jesus, o Senhor, continuai a caminhar n’Ele, enraizados e edificados nele, firmes na fé tal como fostes instruídos, transbordando em ação de graças. Olhai que não haja ninguém a enredar-vos com a filosofia, o que é vazio e enganador, fundado na tradição humana ou nos elementos do mundo, e não em Cristo. Porque é nele que habita realmente toda a plenitude da divindade, e nele vós estais repletos de tudo. Ele que é a cabeça de todo Poder e Autoridades. Foi nele que fostes circuncidados com uma circuncisão que não é feita por mão humana: fostes despojados do corpo carnal pela circuncisão de Cristo. Sepultados com Ele no Batismo, foi também com Ele que fostes ressuscitados, pela fé que tendes no poder de Deus que o ressuscitou dos mortos. .... Não vos deixeis condenar por ninguém no que toca a comida ou bebida ou a respeito de uma festa, de uma lua nova ou de um sábado. Tudo isto não é mais de uma sombra das coisas que hão-de vir: a realidade está em Cristo. ....."
b)      Gal 2,19b-20;" Estou crucificado com Cristo. Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. E a vida que agora tenho na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus que me amou e a si mesmo se entregou por mim." ……
A passagem de Colossenses parece escrita mesmo para a nossa situação: muitos batizados, que porém não continuam, até voltam para trás; muitas saudades do que se deixou e pressa demais para seguir qualquer proposta extemporânea de qualquer pregador; a tentação de seguir a onda, de não ficar por trás, etc…. Qual o remédio? Paulo recorre a um só: repartir de Cristo; a centralidade e exclusividade do Salvador: só sendo seus discípulos, partilhando na verdade da sua vida e das suas escolhas é que se progride na fé, na prática, na vida que recebemos nos sacramentos da Iniciação. Será o caso de voltar às origens e de repensar um bocado naquilo que estamos fazendo. Será que estamos realizando aquilo que fomos mandados fazer?

c)      Mt 28,19-20: "Ide pois, FAZEI DISCÍPULOS todos os povos batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espirito Santo ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado. E sabei que eu estarei convosco sempre até ao fim dos tempos".
Se decidirmos olhar para os três verbos que Mateus emprega, falaremos em três operações, de que a primeira é “fazer discípulos”. Se em vez, seguindo mais fielmente o texto, retermos o verbo principal como contendo o mandamento e os dois particípios como indicando os meios, o resultado não muda, porque Jesus mandou seus apóstolos a “fazer discípulos” todos os povos, não propriamente a batizá-los. Esta última operação é subordinada ao próprio mandamento: deve servir para fazer discípulos! Esta é a missão que Jesus confiou aos onze, e não se trata só de batizar. Até que o próprio Paulo, falando aos Corintos divididos e partidários diz: “…será que vocês foram batizados em nome de Paulo? Dou graças a Deus que eu não batizei nenhum de vocês, a não ser Crispo e Gaio. Assim ninguém pode dizer que vocês foram batizados em meu nome. Ah, sim, batizei também Estéfanas e a família dele, mas não lembro de ter batizado mais ninguém. Pois Cristo não me enviou para batizar, mas para anunciar o Evangelho” (1Cor.1,13b-17a). Então o mandamento que recebemos è de fazer discípulos, mais do que propriamente de batizar.
1.      Fazei discípulos (discípulo vem de discere e quer dizer aprendiz, que se acompanha com seu mestre, e não se fala de algo que acabará uma vez conseguido um hipotético diploma. Até ao próprio Pedro, depois de o ter constituído Pastor de toda a Igreja, Jesus lembra que é e deve continuar a ser discípulo e intima-lhe: “Tu segue-me!” (Jo 21,22b))
2.      Batizando-os. Quem devemos batizar? Os que aceitam fazer-se discípulos, claro, os que aceitam caminhar com Jesus (“negue-se a si mesmo, tome sua cruz e sigame” (Mt.16,24)). E são batizados “no nome”, quer dizer em relação vital, com o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Não é um gesto que confere algo de “pontual”, mas sim de “linear”: é um ponto de partida, um início de uma vida nova. Por isso é que falamos em “Sacramentos da Iniciação” e não em Sacramentos de “conferimento” de algum diploma, de algo que “finaliza” um curso….. (sakramentus di kabantada….) Deve ser por isso que no RICA, quando se fala de admitir alguém aos Sacramentos da Iniciação, mais do que falar nos anos de catequese, fala nos “requisitos”: alguém que possui tais requisitos pode ser admitido aos Sacramentos da Iniciação, ver por ex. o n° 23 (a trata-se da “electio”!); 68: entrada no catecumenato; Na nossa linguagem também deveríamos mudar um bocado: porquê falamos continuamente de “Preparação para o Batismo”? Claro que, uma vez lá chegado, alguém pode pensar: consegui, agora descanso! Não será melhor que falemos em “preparação ao encontro com Jesus através dos Sacramentos da Iniciação”? Explicitando que o encontro com Jesus é para se tornar seu discípulo: Evangelium docet. (A linguagem não só revela, mas também transmite uma mentalidade)
3.      Uma vez batizados tudo acabou? Não: Ensinai-os a observar tudo quanto vos ensinei: começa com a mistagogia e continua com a catequese que nunca acabará e compreenderá também a formação da consciência, para enfrentar as situações da vida que continuamente mudam. (Afinal é o que aconteceu com as primeiras comunidades cristãs: o que é que representam as cartas apostólicas se não este processo de reinterpretar a vida na luz da novidade conferida pelo Batismo? Por isso o NT é uma grande riqueza para a nossa pastoral! Um “livro de bordo” para navegação…) Como é então que muitos dos nossos batizados, que batizamos porque “sempre frequentaram a catequese”, uma vez chegados ao Batismo param, julgando que acabaram?
Acabaram a escola, no entender deles, e já têm diploma! Seriam estes os “discípulos” os que andam com Jesus numa vida nova que não tem fim? Os que negam a si próprios, carregam sua cruz e o seguem? Pelos vistos, chegados a este ponto tal vida parece ter acabado: no diskansa! Mas então porque é que o fruto da nossa pastoral catecumenal continua sendo desta forma e qualidade? Haverá algo que deve mudar, talvez. O Diretório ajuda-nos neste sentido? Experimentámos aplicá-lo? Se não nos ajuda, ele também deve ser mudado. Pelo menos procuremos começar a aplicá-lo, depois veremos o que reformar. Será que no Sínodo se pode debater algo neste assunto? 

P. José Fumagalli 

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