A caminho do sínodo diocesano
p. José Fumagalli
A.
Umas realidades antropológicas e teológicas.
B. Os
sacramentos:
A. UMAS REALIDADES ANTROPOLÓGICAS E TEOLÓGICAS
(NB. Aconselho uma leitura calma, demorada, com pausas para
ajudar a..."digestão". Se difícil
demais, pulem para frente.)
A minha aproximação à cultura felupe, além do
que através da convivência cordial com
pessoas que nela nasceram e vivem, vem
sobretudo através da familiarização, estudo, pesquisa e reflexão sobre a
língua, as palavras e outros fenómenos linguísticos analisados com vista a encontrar
caminhos para anunciar o Verbo que se nos revelou.
Não sou linguista e então não pretendi fazer
estudo científico. Simplesmente apliquei-me a desmontar e remontar fenómenos
linguísticos segundo o método indutivo empírico apontado na primeira parte
destas folhas. Uma das primeiras caraterísticas em que deparei foi a riqueza
enorme de palavras concretas aplicadas a frutos, animais, enfim a realidades
com que o Felupe lida todos os dias e a pobreza de palavras abstratas ou até
óbvias, como, por exemplo, as palavras "luz", "justiça",
"reino" e outras, que são fundamentais para o anúncio evangélico.
Aos poucos reparei na ductilidade extrema
que esta língua tem para exprimir ações e acontecimentos, enriquecendo o
significado original duma palavra (conteúdo no RADICAL da mesma) com infixos
vários que o mudam e especificam, conseguindo assim exprimir algo que até nunca
caiu debaixo da sua experiência.
Um exemplo acima de todos, e vamos ver se
consigo fazer-me entender. Será preciso
familiarizar-se um bocadinho com alguma
"ferramenta" da língua felup, mas não é difícil. Há um radical RO\
(ronh) que quer dizer "viver". Se lhe aplicar o infixo verbal causativo
EN tenho RO\EN = fazer viver. O equivalente criol seria VIVI+ infixo NT =
VIVINTI = fazer viver. Voltamos ao Felup e acrescento mais um
infixo, I que dá a voz passiva= RO\ENI= ser feito viver (equivalente criol VIVINTIDO).
A este ponto quero introduzir mais um
elemento: o que é que faz viver? através de que,
com o que è que vou fazer viver alguém? Este
"com que" "através de que" é expresso
pelo infixo UM, que tem prioridade sobre o do
passivo e então o faz recuar duma posição, O que me da: RO\ENI + UM = RO\ENUMI.
Há um outro elemento a introduzir para exprimir a novidade de vida que o
Espírito Santo nos traz no Batismo, se trata de "ser feito viver de
novo", onde este "de novo" tem seu belo sufixo verbal que o
exprime, ULANKEN. Vou inserir este também, relegando a I do passivo ao lugar
que, nesta língua, lhe compete, o último, e tenho a palavra mágica:
RO\ENUMULANKENI= "ser feito viver de
novo através de". Inserindo esta palavra
no contexto do discurso, falando nos que são
feitos viver de novo (=renascem) através
da água e do Espírito Santo, direi
KARO\ENUMULANKENIM a água (mumel amu) e
o Espírito Santo.
A primeira vez que usei esta expressão, os
que me escutavam não estranharam nada.
Quem estranhou fui eu, que perguntei se
compreenderam. Claro que sim. "Mas já ouvistes alguma vez esta
palavra?" Claro que não, mas era extremamente clara e ma explicaram. Era uma
palavra nova, mas perfeitamente Felupe, apesar de introduzir um conceito de que
nunca ouviram falar antes, não pertencia a sua cultura. Continuei com mais
vontade a pesquisa com o tal meu método. Apareceu-me que a palavra felupe é
feita de dois elementos fundamentais, o RADICAL e o PREFIXO. Há um terceiro que
aparece como "determinativo".
Um exemplo, para ser mais claro.
AMBAAL AU: MBAAL è o radical, A o prefixo, AU
o sufixo (ou artigo) = O PESCADOR
ALÉW AU : LÉW é o radical, A o prefixo, AU o
sufixo (ou artigo) = O COZINHEIRO, e
assim por diante. (huLÉWum ahu= pó di buli
(criol). Se porém pegar no radical e aplicar outro prefixo, o significado muda,
nem que fique dentro da mesma área de significação:
HuMBAALum ahu= a rede da pesca (aquilo
"com que" (=UM) se pesca com rede)
eMBAAL ai = a rede que se lança para pescar
jaMBAAL aju= a pesca com rede.
Pelo que, se vê que o radical contêm a ideia,
o "conceito" que porém eu só consigo "chamar", fazer
existir aplicando um prefixo, que o coloca numa certa categoria de seres
existentes:
o agente, pescador, cozinheiro, etc.
o instrumento
que serve para "pescar",
"cozinhar" etc.
o ato
de pescar, cozinhar, etc.
E haveria mais: o lugar da cozinha, o
"turno" de serviço na cozinha etc.
Quem é que disse que a abstração é própria da
cultura grega e os africanos só têm a
"representação" dum coisa
existente? Para os iniciados à filosofia, é lembrar que a
definição de conceito é "representatio rei in intellectum expressa". Como também que
o conceito não existe na realidade, é um
"ens" (ente, "matéria" que só é chamado à
existência pela "forma"),
exatamente o que acontece com o prefixo felupe que nos diz
como é que o tal conceito (o de pescar) veio
a existir, se tornou visível ( no pescador, ou na rede etc.).
Fiquei espantado, mas redobrou a vontade de
aplicar estas descobertas a conteúdos do Anúncio cristão.
A.1 1ª TENTATIVA DE INCULTURAÇÃO
.Abordei o livro do Génesis.
- Antes de mais nada a ideia de
"criar", quer dizer de fazer existitr o que ainda não existe, sem utilizar
nada de pre-existente.
(Ainda para os iniciados à filosofia, a
definição de Agostinho diz: "productio
rei ex
nihilo sui et subiecti" que daria: trazer algo de novo sem
utilizar nada de pre-existente,
nem dele nem da matéria com que è feito.).
Sempre me fez dificuldade, no criol, o
"Deus ki "kumpu" seu ku tera: o som da palavra
kumpu evoca à minha mente o
"compor", quer dizer juntar mais coisas existentes para obter algo
novo. Criar è outra coisa. Em Felupe temos, como já visto antes, o infixo
causativo EN que, aplicado ao radical UW, que quer dizer "existir" dá
UWEN cujo significado è mesmo "fazer existir algo que não existia",
verbo que eu ouvi sempre atribuído a Deus, EMIT AI EWEN: Deus cria, faz passar do
não ser ao ser; pensa uma coisa, a diz e ela começa a existir. E o Felupe
traduz: EWEN, faz existir, faz passar do não ser ao ser céu, terra, árvores etc.:
Quando chegamos à criação do homem é que
aparecem as surpresas. Deus, que sempre até aqui atuou sozinho sempre com os
verbos no singular, passa agora a usar o verbo no plural: "Façamos o homem
à nossa imagem, à nossa semelhança, para que domine...etc. etc.". Porquê o
plural? Conhecemos a resposta pelo próprio catecismo: Porque Deus è Trindade, Pai,
Filho e Espírito Santo. Mas, o que é que isso tem a ver com o homem que não é
trindade, mas sim um só? Com certeza é um só? O texto sacro continua;"
Deus criou o ser humano à sua imagem, criou-o à imagem de Deus,
Ele os criou homem e mulher". E eis
porque o plural: pelo Catecismo sabemos que Deus é um em três pessoas Deus é
"plural" (Trindade= Comunidade de três num só = Comunhão), mas, sendo
infinito, não pode ser "multíplice": se forem dois, nenhum deles seria
infinito, nenhum deles seria Deus. O homem também é "plural", homem e
mulher: mas como? O homem não é um como Deus porque Deus è infinito, o homem em
vez é finito: começa e acaba e há lugar para outro: então são dois, homem e
mulher. Onde foi parar então a tal "semelhança com Deus", que queria
criar "o homem" (no singular) e acabou por criar dois, homem e
mulher?
O felupe consegue dar a resposta profunda a
esta questão. Vamos ver como.
Trata-se sempre do tal jogo dos radicais e infixos:
pegamos os que já conhecemos:
MBAAL quer dizer pescar: AMBAAL AU è quem
pesca, o pescador, LÈW quer dizer cozinhar: ALÉW AU quem cozinha, o cozinheiro,
'N quer dizer "dizer", AN AU è quem diz, O HOMEM.
Já chegamos. Deus Pai "diz", tem em
si o VERBO, o LOGOS, a Palavra, e o exprime, o DIZ, COMUNICA, o que não teria
sentido sem um TU que responde: o Pai diz o VERBO no Espirito Santo =Amor,
(RELAÇÃO substancial entre os dois) e isso tudo "constitui" o Deus
Trindade, que é a comunicação pura e absoluta.
O Homem é "quem diz", tem em si o
conceito que quer exprimir e se torna verbo, logos,
palavra que ele DIZ e encontra um
"TU" que lhe responde. Em Gén. 2, 18 o texto sacro diz: "Não é conveniente que o homem esteja só, vou
dar-lhe um auxiliar semelhante a ele. Então o Senhor Deus, após ter formado da
terra todos os animais do campo e todas as aves dos céus, conduziu-os até junto
do homem".
Sabemos como correram as coisas: o homem
chama o nome de cada um dos animais. Nenhum "responde", nenhum
"DIZ". Será preciso criar a mulher. Então O "EU" que DIZ
encontra o TU que também DIZ também é AN AU, em Felup, e responde e há
comunicação, há vida... e onde a comunicação é plena e envolve totalmente os
dois seres, aparece uma nova vida, o filho, a palavra que os dois "conceberam"
no seu encontro e a seguir "expressaram". Não há quen não veja a
analogia profunda que há com o que acontece no seio da Trindade, nem que se
traduza não numa UNIDADE como em Deus que por natureza é infinito (não tem começo
nem fim), mas na "MULTIPLICIDADE" dos homens (cada um tem começo e
fim). O resultado porém é o mesmo: em Deus há uma RELAÇÃO pura e absoluta que
cria uma unidade.
No homem há RELAÇÃO entre dois seres
distintos, que porém realizam-se perfeitamente entrando em comunhão, que é
"COMUM UNIÃO".
Não é por nada que o "fruto" do
sacramento do matrimónio é UM SER NOVO composto pelos dois que, no sacramento,
Deus juntou em SI, com o mesmo Amor (o Espírito Santo) que é o
"cimento" que une a própria Trindade. Os dois, casando "no
Senhor" se "dizem" fidelidade e Deus a realiza através do
sacramento. Acho que é mesmo por isso que o casado em Felupe se chama
"AJAMOR AU" aquele que "se entendem reciprocamente com
outro", realizando e aperfeiçoando no dia a dia aquela relação profunda
que os faz ser Homem e Mulher dados um ao outro e dos quais cada um pode dizer:
" Eu não seria EU sem TI", (o que em felupe soa "sem TU",
também pronome sujeito!) É por isso que o matrimónio não pode ser
"dividido" ( "ka
ta pajigadu"): mais pelo dom de Deus que
corresponde ao vosso ser profundo ("relação", "dizer") do
que do vosso próprio esforço e amor humano; contudo Deus o apoia em força do
sacramento que se realiza no dia a dia. (O "dia do casamento, como se vê,
não é só o dia em que disseram "SIM" nas é também cada um dos dias
que a ele seguem-se, tal e qual como para o Batismo). O "medo" de não
conseguir "aguentar" a vida toda aparece como algo que não tem sentido.
Deve ser por causa desta intuição (o homem "relação" que precisa do
outro) que o casamento na tradição felupe apresenta-se muito mais
"sério" do que em outros povos cá na Guiné.
Continuando na análise das palavras empregues
na vida ordinária, em vista de anunciarmos a mensagem do Evangelho, encontramos
a diferença entre homem e mulher. Repare-se bem nas palavras a seguir:
AN YN ÂU o homem: AN quem diz. YN= força, de
que se precisa para a luta da vida.
AN ÀR AU a mulher: AN quem DIZ, ÀR= ventre: a
função materna. transmetedora da vida. AN ÑÀK AN AU a mulher: AN quem diz. ÑAK
encerra, guarda, protege AN homem: sempre a função materna que se prolonga bem
além do tempo da gravidez...
Resultado: Paridade
absoluta no SER e no se RELACIONAR: AN = quem
diz.
Diferenciação nas funções ao serviço à vida:
complementaridade.
Teoricamente perfeito. Na prática, historicamente,
também entre os Felupes há a
tendência ( e o hábito) de o macho se
considerar superior: sem nenhum fundamento
cultural! Pastoralmente falando, não temos a
impressão de termos as portas abertas e até escancaradas para
"Evangelizar" o matrimónio?
Sem falar na "Preparação tradicional ao
matrimónio", que exigiria outro capítulo a parte...
A.2 SEGUNDA
TENTATIVA DE INCULTURAÇÃO.
Col. 1, 15- 20 o hino cristológico, com
referência particular a 16 e 17: ".. foi
nele que
todas as coisas foram criadas... todas
as coisas foram criadas para Ele.... e todas elas subsistem nEle"
Em 1986, ao longo do itinerário dos estágios
de formação dos catequistas na Diocese e nos Sectores, abordámos a carta de
Paulo aos Colossenses, preciosa por fornecer respostas às tentativas daquela
comunidade de regressar ao caminho velho ou, pelo menos de assumir elementos
dele, numa "aventura" sincretista.
Traduzindo o hino cristológico usei as
expressões que aprendi estudando a língua Felupe: "Foi nele (por ele) que
todas as coisas foram criadas. O auwum-mo-m ma uah au uuwenumin pèh. Coloquei
em preto algo que já conhecemos. o radical UW que quer dizer
"existir" o infixo EN causativo "faz com que" e o infixo UM
que quer dizer: por meio de, através de, como já vimos. Sempre a causa do
método empírico-indutivo em que já falei, fui a pocura de analogias, de coisas
parecidas, de palavras semelhantes e encontrei uma: EUWUM ÂI a qual, tirando o prefixo
E e o sufixo ÂI me dá UWUM, que é o radical UW = existir e o tal infixo UM = através
de, por causa de, etc. Nada de novo, como estamos a ver. O motor começou a
girar procurando o porquê. Fantastiquei um pouco lembrando que cada grupo de
famílias (CLÃ) tem um EUWUM ÂI próprio, que funda a unidade e a coesão daquele
clã: para uns é a gazela, para outros o hipopótamo e assim por diante . Seria
algo como um "animal partner" talvez resíduo do totemismo que
praticavam na época em que eram caçadores. Desconfiei que a tradução da carta
aos Colossenses seria providencial para acabar com conflitos existenttes entre
tabancas, etc. Até que, num encontro de catequistas, todos eles
adultos, casados, pais de bastantes filhos e
conhecedores de sua cultura, perguntei os vários animais partners (Jémias,
em criol) e o que significavam. Depois de bastantes respostas apresentei a
tradução da passagem da carta aos Colossenses e o interesse subiu de tensão. Disse
que desconfiava que isso podia ser útil, talvez, para entendermos que, como
cristãos, somos uma família só. A este ponto ninguém os deteve mais. Largaram a
discutir, forneceram explicações suplementares: como disseram, encontraram a
chave para resolver bastantes problemas: Cristo é como que o "EUWUM
ÂI" de tudo o que existe, principalmente dos homens, que portanto resultam
ser irmãos, "família". O discurso passou às comunidades e além...
Foi por isso? Intervieram outros factores? O
facto é que em menos de quatro anos a guerra entre tabancas felupes
desapareceu, já não há tabancas inimigas e Anjiroken, a velhinha de EJIN, na
Páscoa de 1990, podia fazer seu proclama: "É em Jesus que encontrámos a
paz entre as nossaas tabancas!" e todos assentiram. Não houve reuniões nem
conversações nem tratados de paz e de reconciliação com respectivas assinaturas
mais ou menos solenes: foi uma reacção em cadeia, desencadeada por um anúncio
quase casual! Mas que encontrou uma porta que se abriu de maneira inesperada. Será
que isso pode ser uma pista também para o Sínodo e para a Guiné Bissau?
NB. 1. Mais desenvolvimentos deste tema se
podem encontrar em:
- Vincent Mulago Un visage Africaine du Christianisme. L'union vitale Bantu face à
l'unité vital ecclésiale. Présence Africaine, Paris 1962.
2. Interessante seria explorarmos também mais
fenómenos linguísticos
confrontados a seguir com a realidade, para
nos dar conta da concepção antropocêntrica e até "egocêntrica" da
visão do mundo felupe, mas, apesar de ser matéria a evangelizar, nos levaria
longe demais.
B. OS SACRAMENTOS que costumamos administrar aos filhos de
cristãos, membros, pelo Batismo, do POVO DE DEUS: podem vir a ser um caminho de
iniciação?
Antes de mais nada ñao consigo perceber
porquê, estando nós a actuar no contexto de povos que atribuem uma importância
exorbitante a tudo o que é iniciação e ao que a ela de qualquer maneira está
ligado, devamos teimar em administrar , aos filhos de cristãos, só dois sacramentos,
e bem isolados entre eles, ignorando qualquer processo educativo, e então iniciático.
Não aproveitamos o que temos nas fontes de água viva e empurramos a gente a procurar
água em cisternas "nem sempre tão igiénicas.
O que fazemos do Baptismo? Foi administrado e
... arrecadado.
O que fazemos do sacramento da Penitência?
Nada: bilhete de ingresso para a primeira Comunhão e relativa festa (será
melhor que eu escreva também Primeira em letra grande, porqe não se sabe bem
qual entre as duas palavras é a mais importante)'
O que fazemos da Primeira Comunhão? Uma
festa, possivelmente com "mansida" para que tenha uma certa importância
e seja bem lembrada.
E do Crisma que fazemos? Era o que faltava
ainda: Até que enfim acabou a história de ir à catequese no sábado e à Missa no
domingo. Agora podemos dispor do nosso tempo para nos divertirmos como se deve
nos "fins de semana"!...E assim, pulando de sacramento em sacramento,
( e talvez de paróquia em paróquia escolhendo come fazer mais depressa...) chegamos
ao fim dos compromissos assumidos.
Absurdo! Vamos tentar ver se podemos, como
primeiro passo, "inculturar" a "caminhada" sacramental dum
filho de cristãos, num contesto de "iniciação" à vida de "Filho
e Deus", atendendo ao compromisso assumido no Baptismo da criança.
Vamos fazer primeiro umas considerações sobre
a concepção tradicional ideal da iniciação dos jovens para em seguida
instituir, se possível, um "paralelo" com a iniciação cristã
NB. Colocamos só alguns elementos quanto a
modalidades finalidades da iniciação
tradicional. Seu estudo não caberia aqui.. Marca-se, com a iniciação, o começo duma vida
nova para o iniciando, e a própria tabanca conta os anos da história dela a
partir das sucessivas iniciações.
Umas características:
A Iniciação refere-se a toda a tabanca, envolve
toda a tabanca, os iniciadores, os "kuruncen aku " ou
"buriten abu " (padrinhos étnicos que cada um tem na etnia Felup),
os anciãos que
mandam e os outros que obedecem: é vida nova que se tenta enxertar no tronco da
vida da tabanca, enraizar nas raizes mais profundas da etnia, da linhagem, da família,
até à raiz última da vida, o antepassado, o "euwumâi "
(animal partner no totemismo), o iran....em Deus.
Umas finalidades (em resumo):
a. Função política: reproduzir usos e formas
de vida do passado; o que deu até agora, vai dar para diante também.
b. Função cultural: tradições, mitos,
linguagem, sistema de valores e critérios de avaliação, leis do grupo...O
depósito dinámico, gerador de novas escolhas...
c. Função social: novos relacionamentos, de
adultos para adultos, de responsáveis para responsáveis, quer para com os
indivíduos e, sobretudo, para com a tabanca em si.
d. Função simbólica: em definitiva a passagem
da morte à vida, de uma existência "sem sentido" ( o jovem na etnia
felup) a uma existência finalizada, "produtiva" para a vida da etnia...
Em conclusäo:
- Como o pai e a mãe dão origem a uma nova
vida e há todo um tempo em que esta vida pulsa no seio da mãe e da família (e
há os tabús, o "sacrum" a proteger esta vida em formação..)
- assim a comunidade humana está em gestação
da nova geração, que se espera seja melhor das precedentes (jajar aju dos
Felupes, quanto ao número de iniciados...) È o sonho de todos e de sempre, de
alcançar uma vida melhor, que não seja constrangida ou em perigo...
- Deus veio ao encontro do sonho do homem:
"para que todos tenham a vida..."
A
INICIAÇÃO CRISTÃ
1. Não é o Baptismo, nem os três sacramentos
em conjunto, a saber Baptismo, Confirmação, Eucaristia. Estes são os
"Sacramentos" da iniciação, quer dizer sinais de que a iniciação tem lugar,
pontos salientes dum caminho, em que Deus age, se encontra a fé que os torna
assim sinais eficazes. Por exemplo: como já sabemos quando, durante as
perseguições na antiguidade, o Baptismo era conferido em perigo de morte na
iminência do martírio, no caso de o baptizado escapar à morte, devia fazer todo
o caminho catecumenal, quer dizer, percorrer todo o itinerário da iniciação
cristã para ser, de facto, iniciado.
Uma primeira observação: o menino cristão
baptizado, ainda não recebeu os outros
sacramentos da iniciação, portanto está
ainda em regime ded iniciação e, portanto, "a
caminho de...". Deve ser ajudado a
marchar, a crescer, a "seguir a Jesus"... e os
sacramentos devem ser dados de forma
"dinâmica", ao longo da caminhada....
2. A Igreja é POVO DE DEUS, que se constrói
não por nascimento, mas sim pela fé
(cfr..Jo.3,5: pela água e pelo Espírito). É
um chamamento, uma vocação.
Como para a vida natural, no Povo dos homens,
há uma iniciação, assim para a vida nova no Povo de Deus há uma iniciação; é
como que um processo natural, mas, atenção, proporcionado com a natureza da
vida nova e já não mais com a natureza da
vida meramente humana (a "carne" em
S. Paulo).
Essa iniciação cristã é obra de quem?
- De
Deus (em Cristo) que indica e traz a verdadeira
raiz da vida, o tronco em que os ramos são enxertados (cfr.Jo.15,1-11)
- Da
Igreja, que indica qual é o caminho, quais os
meios, quais as condições para que tal iniciação se efectue, para que haja um
autêntico nascimento à vida nova em Cristo na própria Igreja (Col.2,9-13.15), e
que, no seu conjuto, acompanha e como que "envolve" os iniciandos no
catecumenado (para os adultos), chamado, por alguns antigos Padres, "seio
materno da Igreja"
- Do
homem (varão e mulher): não só participa e aguenta,
nem que não esteja de acordo (Jitu ka ten ), passando à iniciacão quase que
AUTOMATICAMENTE com a sua classe de idade; mas sim escuta, pergunta, crê,
caminha, amadurece, assume, ESCOLHE... até que, na verdade, realiza uma mudança
de vida, não só nos símbolos que lhe são "aplicados", mas na realidade
da sua existência renovada, diferente da dos outros (em proporção aplica-se também a meninos e
jovens)
3. Em conclusão, a Iniciação cristã a.
Baseia-se não na repetição, mas na novidade (O Espírito guiar-vos-á pela
verdade toda). Deus entrou na vida do homem e a revirou (metánoia: mudança de
mentalidade) para que o homem se realize conforme o plano de Deus em Jesus,
homem verdadeiro, que encontra as respostas adequadas às perguntas sobre a sua
existência, perguntas que, crescendo, afloram à consciência do jovem.
- Não há mais Judeu nem Grego, ...nem homem
nem mulher, mas Cristo tudo em todos (o verdadeiro Auwum au (o que se queria conseguir com a figura do
Totem), o Antepassado (melhor: Antenato, antes nascido) único e vivente ...)
que nos une a todos numa vida nova.
b. Realiza-se num contexto de Igreja:
- toda a comunidade envolvida, como na
iniciação tradicional: participa e é renovada, "faz páscoa" enquanto
acompanha a nova geração na caminhada iniciática.
- toda a comunidade transmite o que recebeu,
as respostas definitivas e dinámicas: o
núcleo de que sai sua vida nova, a Tradição
(1Cor.11,23; Cfr. 1Tim. 6,20)
- os responsáveis, os catequistas, os
garantes e os padrinhos como que "condensam" o acompanhamento da
comunidade toda e "materializam" as decisões acerca dos iniciandos.
c. Comporta:
- rupturas: as tradições humanas em muitos
casos "sujaram" a Palavra de Deus (Mc.7,6-9; Lc.12,51-53...)
- escolhas: um sistema de valores diferemte
do dos colegas, o que traz diferentes critérios de escolha (Cfr.Fil.3,2-14)
- crescimento interior na fé
- assunção duma forma de vida diferente,
porque nova, "significativamente" nova, quer dizer nova até ser sinal
intelegível para os outros, que os convida a colocar seus valores em discussão.
-TEMPO necessário para realizar estas
mudanças todas (natura non facit
saltus, e o
sobrenatural não se substitui ao natural....)
d. Tem etapas e períodos, marcados por umas
celebrações e, sobretudo, pela administração dos sacramentos da Reconciliação e
Penitência, da Eucaristia e do Crisma. Desta forma vê-se mesmo que a iniciação
tradicional é plenamnte ultrapassada e se deveria discutir se, nem que
reformada, ainda teria razão de ser.
Qual a iniciação para os filhos dos cristãos,
já baptizados? A que é feita por mãos de homens? (Cfr. Col. 2,11) A que subjaz
a critérios ditados por valores simplesmente humanos (ex. g. só machos, sem
fémeas)? A que dá respostas parciais e provisórias, dependentes só da palavra
dos homens, de seus conhecimentos, meios e valores?
A que tenta alcançar, através de símbolos, às
vezes sugestivos, às vezes carregados de consequências lesivas de direitos
humanos, realidades sonhadas mas julgadas
inalcançáveis (ex. o nascimento para uma vida
nova)?...
A que recorre não só a intercessores, mas até
a "mediadores" entre Deus e os homens
que atentam à unicidade do Mediador,
"Homo Christus Jesus"?
Claro que, para cada uma destas vozes temos a
contrapartida da iniciação cristã, que não é a "Primeira Comunhão"
como é feita agora, nem a "Confirmação" actual etc. Tem que ser tudo
repensado como CAMINHO e não como celebrações que não celebram nada, a não ser
uma festa exterior, em que a comunidade participa só por momentos.
Não é suficiente dizer ñao à iniciação
tradicional, no caso de a acharmos ultrapassada ou de valor não proporcionado
aos riscos e aos atrasos que provoca.
Temos nas mãos um caminho de iniciação a
valorizar. Para tal tenho só umas pequenas experiências que vou contar assim,
um bocado desordenadamente.
O que é mais importante é que, depois de anos
de insistência, os núcleos mais vivos das comunidades estão tomando a peito o
assunto; começamos a propor uns sinais, tentando "ENVOLVER" as
famílias no próprio caminho de iniciação, que abrange toda a educação cristã
dos filhos, até a preparação ao próprio casamento, para os que a ele são
chamados, e à animação vocacional, inserida neste mesmo processo de educação,
de que os pais são responsáveis em primeira pessoa, porque pais, e não são
chamados em causa só na altura da "festa".
Umas indicações acerca do que já se está a
fazer na paróquia de Suzana em tema de Iniciação dos filhos de cristãos.
Baptismo de crianças: na
catequese de preparação, os pais são perguntados sobre a situação dos
filhos mais crescidos; pnde estão, o que fazem, qual a sua
situação em ordem ao caminho cristão; quanto aos mais crescidos: qual a sua
situação matrimonial.
Os irmãos presentes na comunidade são convidados a prepararem-se
para o Baptismo do irmãozinho: serão eles que mais de perto lhe indicarão o caminho.
Agora, na celebração, todos eles assumem este compromisso fazendo eles também,
depois do clebrante, pais e padrinhos, o sinal da cruz na testa do
irmãozinho...
A celebração da Primeira
Confissão faz parte da caminhada da Iniciação cristã
dos filhos de cristãos baptizados em crianças. (Sacramento injustamente posto
de lado...)
Tirando da descrição de tal caminho apontamos o seguinte:
“Nos primeiros anos, em família, através da oração e de vários
“input” a criança vai acostumando-se a ser chamada “filho de Deus”, de facto
está em comunhão de vida ( junta bida) com Cristo.
NB.(É importante que comece a aparecer a palavra
"comunhão", referida por exemplo ao camiho, à
vida, para que guarde toda a sua dinamicidade e não seja entendida
como algo de quase "mágico"
exclusivamente aplicado à Eucaristia). Os “input” são de ordem
diferente: por exemplo, a mãe vai à missa com a criança ao colo. Pode haver
mais momentos, informais, mas que podem ser sugeridos aos pais cristãos… E’ um
caminho muito leve, mas que ajuda a "junta
sintidu" (= fazer comunhão) com Jesus; caminho
que desemboca na primeira catequese na Paróquia e que continuará pela vida
toda.
A certo ponto acorda um princípio de “consciência moral”. Não
è preciso que seja através da catequese
formal. Simplesmente a criança se dá conta de que há acções de que
os pais gostam e outras de que não gostam; quando faz algo de que os pais não
gostam, apercebe-se que há algo que não vai, aos poucos aprende que è melhor
pedir desculpa. Há como que um afastamento dos pais (da mãe) e depois, pedindo
desculpa, voltam a se aproximar de novo. (=Ruptura e reestabelecimento da
"comunhão"!
Aqui se insere o relacionamento com Jesus. Eu costumo dizer aos
pais: seus filhos começaram a entender que há coisas que podem fazer porque vos
agradam e outras que não podem fazer porque não vos agradam? (e normalmente
procuram se esconder?) Percebem que quando fazem, cientemente, algo que vos não
agrada è como que se se afastassem de vós, vão por outro caminho? (Ruptura da
"comunhão"...) Se a resposta è sim, a estrada está aberta para que,
através da catequese, se introduza uma referência a Jesus: há coisas que lhe
agradam e outras que não, como acontece com os pais. Coisa que se detecta
simplesmente através de episódios do Evangelho, (as historinhas de Jesus).
E se algo não lhe agrada e eu fico com aquele sentimento de culpa
e de afastamento? Será que posso pedir-lhe desculpa? E quem è que me diz que
ele me perdoa? Quem è que me diz que podemos voltar a andar juntos? Aqui se
abre o caminho para a catequese em vista do Sacramento com que voltas para
junto de Jesus, sacramento em que o encontras e voltas a andar junto com ele,
no mesmo caminho (bo junta kamiñu). E cada vez que precisares de voltar para Ele para lhe pedir
desculpa e andar novamente com Ele, tu voltarás ao sacramento do perdão, que
tem uma “personalidade” própria, uma função específica no caminho da iniciação,
marca uma etapa bem definida, ainda antes de pensar na primeira Eucaristia.
(Importante também è a referência à Igreja: Jesus deixou seu
perdão nas mãos da Igreja, de que te
afastas com o pecado; a Igreja, por sua vez, manda os padres para
que possamos encontrar Jesus que nos perdoa…).” (Ver as minhas "Notas sobre a catequese infantil").
Como se faz a celebração?
- Antes de mais nada, uma vez seleccionados os candidatos
juntamente com pais, padrinhos e catequistas, eles
são convidados a uma série de três retiros, em conjunto com os
candidatos das outras comunidades da
Paróquia. Retiros a que participam uns Grandes, em veste de
Iniciadores.
- A celebração comporta a presença da comunidade, pelo que ainda
conseguimos fazê-la na Missa Dominical:
se o grupo é grande, reparte-se em grupinhos de 10-12 meninos
- Eles se juntam no fundo da Igreja: dentro da mesma, porque já
são Baptizados. Naquela altura vieram para diante ao colo dos pais. Agora vêm
marchando com seus pés: querem juntar caminho com Jesus (junta kamiñu): sabem, têm
consciencia que com certos actos se afastaram dEle para seguirem outras coisas,
agora querem voltar para junto dEle, representado diante deles no Círio da
Pascoa. (sempre presente quando se trata de iniciação).
- Os pais acompanham. Começa a Missa. Depois da oração penitencial
a comunidade senta-se e reza, e os meninos, um por um, são acompanhados pelos
pais para perto do padre. O menino faz sua Confissão. Os pais esperam por ele.
Depois rezam juntos com ele e voltam para seu lugar.
- Na parte final da Missa entrega-se um fascículo em banda
desenhada do Evangelho e o livrinho das orações: tentam conhecer mais a Jesus
além de que na catequese também através da leitura e da oração. E são exortados
a voltarem sempre para junto dEle que sempre os espera.
A Comunidade também espera por eles, para autro ano, para sua
Primeira Eucaristia.
Celebração da Primeira Eucaristia em Suzana.
Aqui também tiro algo das “Notas sobre a catequese infantil”:
“A fase chamada da preparação à primeira Eucaristia representa uma
etapa sucessiva. Então, a criança
- junta vida ku Jesus no
Baptismo
- junta sintidu ku Jesus
progressivamente através de input, exemplos, etc…. primeira catequese, a
formação progressiva da consciência moral...
- junta kamiñu ku Jesus através
do encontro com ele no sacramento do perdão, cada vez que se apercebe que se
afastou dEle e andou por caminhos diferentes;
enfim, na Eucaristia “i na junta
kabesa” com Jesus: os elementos fundamentais da
Missa, que não è só
“comunhão”, mas sim Palavra, Oração, Entrega… Comunhão com Ele e
com a Igreja. Momentos e elementos que devem ser evidenciados e que resumem as
etapas precedentes. (Não se pode comer se alguém não cozinhou, e para cozinhar
è precisa muita coisa: tu já podes trazer algo….)” É be acenar já também a
estes elementos, apesar de dar maior relevo ao facto que o menino é admitido ao
"Convite" com os grandes. Ele é "da casa" e come com
"os da casa" Na altura do Crisma é que será dado relevo ao
envolvimento vital com Jesus no seu Sacrifício da Cruz,quano o rapaz tomará
mais consciênciaa da sua identidade e missõ com Rei, Sacerdote e Profeta).
Aqui também há uma série de retiros com as mesmas modalidades.
A celebração comporta a renovação das promessas Baptismais, feitas
diante do Círio Pascal.
Os candidatos trazem as ofertas que eles próprios prepararam. Vêm
à Igreja e à Comunhão com os pais (possivelmente. É contudo importante que haja
adulos os tais iniciadores...), que também são insistentemente convidados a
acompanharem os filhos nesta caminhada de preparação.
No final recebem o livrinho do Rosário e o terço; possívelmente um
livrinho do Evangelho: è conhecer
melhor a Jesus para poder viver com Ele e para que Ele, em nós,
alcance também os outros.
Entre Primeira Comunhão e Crisma
A caminhada da iniciação dos filhos de cristãos continua, até se
faz mais apertada. Infelizmente a este ponto há uma dificuldade:
- por causa da continuação na escola muitos saem e ficam fora
10/11 meses cada ano
- a série dos catecismos revela-se inadequada a cobrir estes anos
(4/5) que são os anos cruciais da pré-adolescência e da adolescência. Desde uns
anos estamos procurando algum sinal que lhes dê mais força, uma etapa
intermédia que lhes lembre que estão caminhando com Jesus na Igreja.
Se Deus quiser estamoos chegando a esta conclusão:
- Ao longo do ano de catequese se faz uma lista dos que presumivelmente
irão sair no ano successivo para frequentar a escola em Bissau ou alhures
- Durante as férias se vão fazer alguns retiros em preparação a um
“sinal intermédio” que queríamos fosse como que um sinal de “Envio”, que se
fazuma pequena celebração na Missa do Domingo em que a estes candidatos se entrega
um Crucifixo:
- tu es cristão e já estás unido a Cristo, escolheste viver em
comunhão com Ele
- tu es cristão de Suzana e nesta comunidade foste moldado através
dos dons de Deus
- estás saindo para outra terra
- onde quer que estejas, procuras a Igreja: è a tua casa, nela
continuas tua caminhada, juntamente
com os novos irmãos que encontras na "casa-Igreja" em
que chegaste, crescendo juntos na fé;
- onde quer que estejas professas a tua fé: se na casa onde moras
és o único cristão, não tenhas medo:
tu és enviado pela tua comunidade aa anunciar a Cristo, a fazer
seus discípulos. Penduras a tua cruz
lá onde dormes e de manhã e à noite fazes tua oração: è a primeira
forma de testemunhar a Jesus; alí
encontras também a força de continuar a testemunhar. Não vais
“aguentar” mas sim “anunciar”: tu
és que tens algo que podes dar, que os teus colegas ainda não têm.
- Durante estes anos, no tempo da chuva, quando estão todos
presentes, programámos encontros de formação* integrativos da catequese,
tentando, aos poucos, construr também uma espécie de roteiro para formação de
pré-adolescentes, adolescentes e jovens (também depois do Crisma) de forma a
ajudá-los a enfrentar a vida com mais consciência.
Celebração do sacramento do Crisma em Suzana.
O Sacramento da confirmação dos jovens, geralmente filhos de
cristãos, é visto como o ponto mais alto de todo um caminho de iniciação
começado no Baptismo, continuado na própria família cristã e, progressivamente,
na comunidade. Momentos salientes deste caminho são as celebrações da primeira
confissão e da primeira comunhão, precedidas, além do que da catequese
apropriada, também de retiros em conjunto com candidatos de todas as
comunidades, acompanhados por anciãos.
A preparação ao sacramento da Confirmação comporta pelo menos um
ano de catequese e é conferido a rapazes de 18 anos para cima e a moças de 17
para cima. Na catequese e nos retiros é explicado claramente que a recepção
deste sacramento os incumbe duma missão no conjunto da comunidade de que se
tornam elementos "responsáveis". A celebração é preparada por uma
série de retiros em que participam todos os candidatos de todas as comunidades
em conjunto, acompanhados por adultos "iniciadores" . Além dos
retiros há um colóquio pessoal com o Padre responsável da missão: são
perguntados acerca do que vêem e pensam da comunidade, de como pensam de se
situar nela, de quais são os programas da sua vida, se têm ideia
suficientemente clara da sua perspectiva vocacional, do empenho concreto que
querem assumir na comunidade em que se encontram, a sua natural ou aquela em
que se encontram por motivos de estudo ou de trabalho; também fazem experiência
do facto que se vai ter com o padre não só para o sacrameto do perdão, mas também
para tratar problemas pessoais, para expor dúvidas, projectos, sugestões etc..
( em vista duma possível direcção espiritual").
Nas semanas precedents a celebração, há umas catequeses feitas
comunidade por comunidade, em que participam os confirmandos rodeados pelos
adultos: é a preparação próxima ao rito final da iniciação, em que todo o Povo
de Deus se encontra envolvido.
O último retiro é na véspra da celebração. Leva a manhã toda.
Comem juntos. Na tarde continuam reunidos em Suzana onde irão morar na missão
acompanhados por seus iniciadores.
Os quais iniciadores contam também aos filhos a história de suas
comunidades e realçam os dons que nelas receberam de Deus. O padre por sua vez
enquadra o discurso com uma informação rápida sobre a Igreja em África e mais
pormenorizadamente em Guiné Bissau.
À noite há a celebração da vigília, com leituras , cânticos e
orações, no estilo da Vigília de Pentecostes.
No dia da celebração os
candidatos acordam e reunem-se na casa de um dos cristãos. Lá é que vestem a
veste branca do Baptismo. Celebração desdobra-se em dois momentos: primeiro há
a profissão de fé junto do túmulo do Pe. Spartaco Marmugi, o apóstolo que nos
trouxe a fé, como também dos túmulos dos primeiros que a abraçaram e testemunharam:
são as raízes da nossa igreja; a seguir a assembleia vai em procissão à igreja
onde a celebração continua e acaba.
No Cemetério. A comunidade reúne, enquanto os candidatos estão
ainda na casa de um dos cristãos, com uns anciãos iniciadores. Depois de um
cântico e do sinal da cruz, há uma breve explicação dos ritos a seguir e uma
oração para os crismandos. Estes vêm, precedidos pelos dançarinos e a
comunidade abre-se para os receber. O Cântico com que se apresentam é o do
início do caminho, da vocação cristã: Inje ome kayó| d'Au/ Bu coman, Siñor Jesus.
A comunidade abre-se para receber os crismandos que se dispõem em
semi-círculo diante do túmulo de P. Marmugi; atrás deles estão os pais, que
seguram as velas, apagadas, do Baptismo.
Leitura de Ef. 2,4-8a.11-22. seguida pelo refrão e primeira
estrofe do cântico "Kuñol Eluup ai ianir ai" (Anós i família di Deus)
e de uma breve explicação que enquadra o rito da renovação das promessas do
Baptismo, de que tem lugar, por enquanto, só a primeira parte, a renúncia a
Satanás e a tudo quanto nos afasta de Deus. Respondem só os crismandos e a
comunidade escuta. A este ponto, depois de uma breve explicação do que vai
acontecer, um de cada vez, os pais acompanham os filhos até junto do círio
pascal, situado ao pé di túmulo de Pe. Marmugi. A Comunidade pode confiar nos
novos membros, vê-os decididos em segurar a fé e continuar o caminho
empreendido pelos primeiros cristãos e expressa sua confiança neles. O pai
entrega a vela ao filho que a acende ao círio, e juntos voltam pare seu lugar.
Diz: "Ái, emanjum âi iata kaìnen aku k'uluyabàm, m'onkenal di
ko." (Toma o sinal da fé que recebemos, para continuarmos nela) O filho
responde "Amen". O crismando vai acender a vela ao Círio Pascal,
regressa e o pai dá-lhe um aperto de mão cumprimentando “Kassuumai” a que o
filho responde “Kassuumai keb”. Nunca se cumprimentam assim em casa: esta é a
primeira vez e queremos realçar que o filho agora não só é “adulto” mas também
não é mais da família que o gerou e mais nada: pertence à Igreja. Quando todos
tiverem cumprido o rito, tem lugar a profissão de fé. Respondem os crismandos e
no fim canta-se, em conjunto, o refrão do cântico "Niìnene d'Emit
ai", duas vezes, seguido pela terceira estrofe do cântico "Kuñol eluup
ai ianir ai"/ "Anós i família de Deus".
A este ponto vai-se para a igreja em procissão, cantando. O Círio
vai na frente, a seguir vão os dançarinos, os candidatos com os iniciadores, os
celebrantes, as comunidades. Chegados à igreja, os candidatos vão a seus
lugares acompanhados agora pelos padrinhos e a celebração continua como no
ritual. A mensagem fundamental que tentamos transmitir nesta última etapa da iniciação
cristã é a seguinte: O Espírito Santo que desce sobre vós, renova em vós a vida
que recebestes e os sacramentoa que vo-la comunicaram:
- consciência do Baptismo recebido e do dinamismo que imprime à
sua vida: filhos de Deus!
- compreensão da "sabedoria" de Deus, do sentido da vida
e da criação, da luta contra o pecado
que qer tirar sentido à nossa vida, para adquirir a mentalidade de
Jesus (penitência)
- a Eucaristia passa da "comunhnão-convite" a que tomam
parte também as crianças da família para o
"sacrifício" em que se unem a Jesus, sacerdote vítima
para a salvação do mundo!
Quer dizer que tudo muda, tudo se desenvolve segundo a sua
dinámica:
entra-se numa NOVA ORDEM DE IDEIAS e a vida recupera o seu
significado entrando numa caminhada sacramental:
-o sacramento do matrimónio: continuar no mundo A VIDA QUE DEUS
CRIOU REI
-a ordem sagrada: continuar a presença de Cristo sacerdote e
vítima "para eles terem VIDA" SACERDOTE
-a consagração religiosa ou laical como sinal e profecia do
aspecto esquecido da VIDA,
o de além mundo que dá sentido ao mundo. PROFETA
Desta forma o Espírito Santo nos faz SANTOS, quer dizer nos coloca
do lado de Deus: no mundo mas não do mundo, para dar sabor à vida do mundo
Carta a Diogneto: os cristãos são a alma do mundo:
alma, espírito como principio vital (iaror): fazem o mundo viver
com Cristo (Col.1,16-20)
alma, espírito como inteligência e consciência (buyegeit/buinum):
reconhecem e interpretam a cultura, a
vida, a história de seu povo fazendo aparecer nela a HISTÓRIA DA
SALVAÇÃO que nela Deus escreveu, acompanhando o povo ao encontro com Cristo.
(ex. toda as vezes que Jesus interpreta os mandamentos:
"ouvistes..., mas eu vos digo", o sábado, o puro e o impuro, o
documento de Moisés para a rescissão do contrato de casamento; os discípulos de
Emmaus.....). Neste contexto tomarão suas decisões para empwreenderem o caminho
da vida.
Lembrando que, no cao do matrimónio, a cultura felupe tem umas
riquezas insuspeitadas, que nem eles próprios conhecem ao fundo e até preparam
de perto o próprio sacramento.