Continuam por apurar as circunstâncias do ataque a uma igreja católica no
leste da Guiné-Bissau. É o primeiro ataque do género e está a inquietar a
sociedade. O Presidente Sissoco não está a dar importância ao sucedido.
É um caso inédito na Guiné-Bissau e está a chocar a sociedade, desde que
foi denunciado e desde que foram postas a circular, nas redes sociais,
imagens da igreja vandalizada.
Tudo aconteceu na noite da passada sexta-feira (01.07), na cidade de Gabú,
leste da Guiné-Bissau, a cerca de 200 quilómetros da capital guineense, quando
um grupo de desconhecidos atacou e vandalizou a Paróquia Santa Isabel.
"Quase tudo
destruído"
Os vândalos destruíram quase tudo no interior da igreja, desde o altar, a
Cruz Peregrina e até a imagem de "Nossa Senhora", que para os
cristãos é sagrada. Alguns objetos foram destruídos e deixados no exterior da
paróquia.
O padre Paulo de Pina Araújo, da Diocese de Bafatá, que alberga a Paróquia
Santa Isabel, não tem dúvidas sobre o sucedido: "Essa pessoa [que fez o
ataque], acho que foi motivada por um tipo de ódio. Agora, não sabemos se
um ódio religioso ou de caráter político, não sabemos a razão, mas é um ódio
que levou a pessoa a fazer isso, porque não roubou e não tirou nada da igreja
para si."
No interior da igreja de Santa Isabel, em Gabú,
praticamente nada escapou à
ira dos atacantes
Primeiro ataque do género no
país
Em Gabú e em toda a Guiné-Bissau não há registo de um conflito
inter-religioso nem de ataques a qualquer lugar de culto. A laicidade do Estado
guineense e a existência de mais de duas dezenas de etnias no país foram sempre
motivo de elogios por líderes religiosos, tendo em conta a "boa
convivência" que se regista entre os cidadãos.
Em reação à vandalização da Paróquia Santa Isabel, de Gabú, o Presidente da
República, Umaro Sissoco Embaló, desvalorizou o sucedido, em declarações aos
jornalistas, no Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira, após a sua chegada do
Gana, onde participou, este fim-de-semana, na Cimeira dos Chefes de Estados da
Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).
"Quantas vezes as mesquitas foram roubadas aqui? Se a igreja foi
roubada têm que deixar a Polícia fazer o seu trabalho. Se a igreja foi vandalizada
é coisa do outro mundo? Quantas vezes roubaram relógios [de parede],
ventoinhas ou aparelhos de ar condicionado em mesquitas? As pessoas têm
que parar com tretas, até no Vaticano e em Meca as pessoas roubam, será que é
coisa de outro mundo?", declarou o líder guineense.
Apelos a investigação
exaustiva
Neste momento, multiplicam-se os apelos à investigação das autoridades
policiais. O pedido foi reforçado à DW África pelo presidente da Confederação
da Juventude Islâmica (CNJI-GB), Hamza Seidi, que fala num ato de terror.
"Enquanto Confederação Nacional da Juventude Islâmica da Guiné-Bissau,
condenamos com toda a veemência [este o ato], porque nada justifica [o ataque].
A Guiné-Bissau é um país laico e não podemos permitir que um ato do gênero
aconteça neste país. Por isso, exigimos às autoridades competentes
que investiguem e responsabilizem as pessoas envolvidas neste ato que
consideramos de terror", sublinhou.
As informações sobre os responsáveis do ataque à igreja são escassas, mas a
DW sabe que a Polícia Judiciária (PJ) já está a investigar o caso. Apesar da vandalização, a igreja atacada celebrou a missa normalmente, este
domingo, sem vários dos seus objetos que foram destruidos.