Catequese
contínua ou permanente
pe. Zé Fumagalli
Suzana 7-05-2016
Era o dia dois de Março de 1969, a
comunidade de Suzana estava em festa pelo segundo dia consecutivo. Estávamos
reunidos na capela para completar a celebração dos primeiros Batismos de
Felupes daquela localidade. Nascia a Igreja de Deus em Suzana e nascia no meio
de cânticos originais, os primeiros, nesta nossa época, numa língua nativa da Guiné
BISSAU. Ainda não se ouviam tambores a acompanharem os ritos da Liturgia; isso aconteceria
só depois de uns meses, em Suzana, com a festa da Ascensão.
Para completar as coisas "estranhas"
daquele dia: o próprio ritual do Batismo dos adultos fora modificado.
Ainda não tínhamos o "Ritual da
Iniciação Cristã dos Adultos", (R.I.C.A.), que saiu só três anos depois, a
6 de janeiro de 1972, mas que eu esperava. De facto, eu sabia que, depois de o
Concílio Ecuménico Vaticano II ter mandado restaurar o Catecumenato (Sacr.
Conc. n. 64), a Comissão para a aplicação dos decretos retomara o trabalho que
já vinha a ser feito desde umas décadas e começou a experimentação, numas
dioceses da Europa e em terras de missões, daquilo que, oportunamente
modificado, viria a ser o R.I.C.A.
Por nossa parte nós distribuímos em dois
dias os elementos do velho ritual, introduzindo leituras, cânticos e orações de
forma a tornar evidentes as demais "etapas" do catecumenato que
individuámos e que, ao longo dos séculos, tinham sido concentradas numa só
celebração. Acrescentámos também uma explicação catequística que acompanhou a
celebração momento por momento nas suas várias fases.
O entusiasmo era evidente, de maneira
particular em p. Spártaco Marmugi, que naquele dia via concretizar-se um
trabalho e uma espera de bem 17 anos, quantos passaram desde a sua chegada a
Suzana.
No dia seguinte pe Spártaco reuniu os
neófitos e os demais catecúmenos em assembleia, a primeira depois do
"nascimento da Igreja" entre os Felupe de Suzana.
Segundo o seu estilo, depois de um
agradecimento a Deus pelo dom da fé e da existência da Igreja na nossa
comunidade e depois de ter pedido a ajuda do Espírito Santo, entrou directamente
no assunto.
"O Baptismo nos fez filhos de Deus,
mas, como s. João nos diz na sua primeira carta, ainda não sabemos ao certo o
que isso quer dizer. Porém sabemos bem duas coisas:
1.
como
filhos de Deus temos que imitar Jesus praticando o seu mandamento, o do amor:
Amor entre nós, como
irmãos para que os outros também acreditem
amor aos outros,
para testemunhar o amor com que Jesus nos amou:
o que é que vamos
fazer concretamente?
E nasceu o que depois veio a ser a Cáritas
paroquial
2.
Não
pensem que, recebido o Baptismo, a catequese acabou, nem por sombras! Temos que
nos dar conta do que isso quer dizer para a nossa própria vida, primeiramente,
como também depois para a vida dos nossos irmãos, do nosso "chão".
Temos que aprender como traduzir no dia-a-dia do "chão" felupe o que
quer dizer ser cristão e como esta vida se deve transformar"
E lá fomos com as discussões e com os
pareceres. Estávamos em tempos de guerra, não havia comunicações e não era
possível fazer "intercâmbios" com outras paróquias que nos abrissem o
caminho. Pelo que éramos "obrigados", por assim dizer, a pesquisar
nas fontes, ma história da Igreja desde suas origens.
E eu também fui lançado nas minhas
primeiras experiências de catequese em Felup. Estava na Guiné desde pouco mais
de sete meses e em Suzana desde sete meses escassos.
Peguei na folhas em que o pe. Marmugi
estava traduzindo um catecismo em Francês para a África Ocidental (o
antepassado de "Kriston aós"), as passava a máquina, estudava e ia
dar catequese aos jovens que, no entanto corrigiam o meu Felupe bem escasso.
Bom, desde então nunca mais parei de
preparar textos e dar catequese, de maneira particular aos adultos, aos chefes
de família, aos que são os aliceces das nossas comunidades.
Mas não era só "dar" catequese,
mas sim "dar e receber" porque a catequese contínua daquela forma
fez-me crescer a mim também como cristão e como padre, e disto estou
imensamente agradecido. Uma mão da, outra mão recebe.
Dizia há bocado que, dada a situação de
guerra, fomos obrigados a procurar modelos de comunidade não tanto em nossa
volta, na "geografia" quanto nas fontes, quer dizer na "história"
e, acrescento, por sua vez interpretada a partir da experiência de vida de
comunidades tradicionais felupes.
A coisa tornou-se dramática com o
falecimento de pe. Marmugi, a 28 de Dezembro de 1973: agora estava sozinho,
inexperiente diante duma tarefa que aparecia sim empolgante, mas também de
enorme responsabilidade.
A guerra acabou no espaço de poucos meses,
mas permanecia a dificuldade de comunicação. Acrescente-se o facto de que os
libertadores saíram do mato repetindo, por algum tempo, a lição aprendida de
cor, a saber "Deus ka ten" e... as igrejas se esvaziaram: não era o
momento melhor para irmos aprender deles alguma coisa, ainda mais porque
parecia-nos exagerado o medo que eles demonstravam: nós sabíamos por
experiência directa que Deus não te abandona se, na perseguição, continuas a
testemunhar por Cristo Jesus.
O que nos socorreu então foi mesmo a Catequese permanente, a catequese
contínua.
Viramo-nos decididamente para o Novo
Testamento procurando descobrir nele não só como os primeiros cristãos
conseguiram passar a viver em novidade de vida nas diferentes culturas, mas
também como foi que as primeiras comunidades cristãs conseguiram começar,
crescer, expandir-se mesmo num meio ambiente que lhes era contrário, como nos
estava acontecendo a nós....
Em língua felupe só tínhamos o Evangelho
de Lucas, mais uma série de passagens dos outros livros usados na catequese ou
na liturgia.
Empreendi a tradução contínua dos Actos
dos Apóstolos, depois de Marcos e comecei a preparar as cartas aos cristãos de
Tessalónica.
Levámos um inteiro ano pastoral (74-75) a
percorrer os primeiros 15 capítulos do livro dos Actos dos Apóstolos, tentando
identificar as linhas dinâmicas pelas quais procedia a construção das
comunidades, enquanto através do Evangelho de Marcos tentámos aprofundar a um
nível mais pessoal o sentido do "seguir a Cristo" que constitui o
verdadeiro discípulo cujo caminho é o mesmo de Jesus, o caminho da Cruz.
Os resultados desta caminhada podem ser
considerados em dois planos.
1.
O
Novo Testamento deixou de ser um livro, um conjunto de folhas quase sem vida,
para se erguer diante de nós como um conjunto de pessoas que nos precederam no caminho
e se tornaram nossos guias e exemplos, nos livraram suas experiências, nos
falaram das dificuldades que encontraram, muitas vezes parecidas com as nossas
(incluindo asa perseguições) e de como conseguiram ultrapassá-las,
fornecendo-nos a "ferramenta" necessária e adequada para nós também
conseguirmos o mesmo. Afinal, um verdadeiro "diário de viagem", um
"roteiro" a guiar os nossos passos.
2. Nos
encontramos com o hábito de nos reunirmos regularmente, praticamente com o
hábito da "catequese contínua" que, se não continuasse, nos faria
mesmo falta. Mais uma prenda recebida pelas mãos de Deus, sem merecimento
nenhum por nossa parte.
Claramente ao longo dos anos a catequese permanente
foi mudando e abrangendo os vários documentos qua saíam de Roma, das mãos do Papa,
ou da Diocese, depois que esta nasceu, em 1977.
Assim se tornou normal que qualquer inquérito,
qualquer carta, qualquer conjunto de "lineamenta" fosse levado ao
conhecimento de toda a comunidade e de todas as comunidades, nem que isso
implicasse um certo tempo e o deslocar-se das comunidades para o lugar
escolhido para o encontro, que nem sempre era Suzana, ou o peregrinar do
próprio padre de comunidade em comunidade passando nelas a noite. Custou e
custa sacrifício, mas sem sacrifício não se faz nada.
Reflectindo sobre esta experiência e diante
do bem que dela nos veio e ainda nos vem a nós todos, quer como comunidades,
quer pessoalmente como cristãos e a mim pessoalmente como padre, acho bem
colocar uns pontos claros que podem servir também para outras comunidades e
para outros meus irmãos evangelizadores.
Aquando do meu serviço nos estágios diocesanos
de formação dos catequistas (1979 -1982) e a seguir também como coordenador da
Comissão Diocesana de Catequese (1982-1988), pelas informações que recebi, me
dei conta que na Guiné-bissau a Catequese permanente era praticante
desconhecida, fora o caso de Suzana em que acabo e falar, e de algum outro.
Na prática, depois do sacramento da
Confirmação, acabou, não há mais catequese, como se a Confirmação representasse
o diploma da escola, obtido o qual não se frequenta mais.
Umas pequenas experiencias esclarecedoras:
Quando, em 1977, comecei o trabalho em S.
Domingos dizendo que começávamos pela catequese, no dia marcado o local de
reunião virou a jardim infantil: um sem fim de crianças rigorosamente debaixo
dos dez anos, umas até carregando às costas o bebé que a mãe lhe confiara! Quando tentei dizer algo aos adultos a
resposta veio certa: "Não falaste em catequese? Aquilo é para crianças,
nós já tivemos, Para nós só a Missa". Entendido?
Mais ainda. No final dos anos oitenta,
depois da criação dos Sectores de Pastoral, querendo eu insistir, como coordenador
da Comissão Diocesana da Catequese, para que cada Paróquia tivesse sua
catequese para adultos, um padre, missionário, retorquiu dizendo
"Catequese? Para adultos? Para qual sacramento ainda se deveriam
preparar?" Como ele não queria admitir que deve haver catequese sem ser
para se preparar a um sacramento, lembro-me que a certo ponto lhe disse:
"Digamos que pelo menos ainda não receberam a unção dos enfermos e então
pelo menos preparem-se para aquela!".
A excepção de uns poucos casos, parece-me que
a situação não melhorou muito. E então retomo o discurso não a partir da unção
dos enfermos, mas sim dos documentos
que já naquela altura tinham feito sua aparição e que na altura tentei lembrar
ao meu confrade.
Em 1971 saiu por iniciativa da Sagrada Congregação
do Clero o "Directório Catequístico
Geral". Era o ponto de chegada de todo um movimento de renovação da
catequese que começara desde final do séc. XIX e que andava ao passo com o
movimento litúrgico. Os dois, juntamente com o moimento ecuménico e o das Missões,
foram assumidos e relançados pelo Concílio Vaticano II e pelos Papas que a
seguir se encarregaram de colocar em andamento as diretivas que do Concilio saíram
Em oito capítulos subdivididos em134
parágrafos traça a fisionomia, a finalidade, os fundamentos e as modalidades da
catequese.
Falando dos destinatários da mesma depois
de ter mencionado as várias idades, no n. 79 diz: "O presente Diretório
Geral afirma com força a necessidade de uma catequese aos adultos pelas razões
seguintes...": e enumera três razões que convido a ir procurar.
Os apóstolos do movimento de renovação da
Catequese ficaram entusiasmados com o documento em que reconheciam muitas das
suas instâncias. Muitas conferências episcopais elaboraram, depois de amplas
consultações, os chamados "Documentos de base" para a renovação da
catequese.
No meio desta vivacidade, Papa Paulo VI
depois do Sínodo sobre a Evangelização, convoca o Sínodo sobre a catequese.
No fim do Sínodo os Padres entregaram as
propostas, mas Paulo VI veio a falecer a 6 de Agosto. O papa que lhe sucedeu,
João Paulo I° não teve nem o tempo material de pegar nas propostas: depois de
dois meses da sua eleição ele também faleceu e as propostas passaram às mãos de
João Paulo II. O qual retomou, no título, o estilo de Paulo VI e depois da
"Evangelii nuntiandi" em 1979 deu-nos a "Catechesi
tradendae" (o Evangelho para "anunciar" e a catequese para
"ser entregue", de uma geração para outra, de uma mão para outra...).
Falando na finalidade da catequese diz:
" A finalidade específica da catequese, no
entanto, não deixa de continuar a ser a de desenvolver, com a ajuda de Deus,
uma fé ainda inicial. A de promover em plenitude e de alimentar quotidianamente
a vida cristã dos fiéis de todas as
idades. Trata-se, com efeito, de fazer crescer, no plano do conhecimento e
da vida, o gérmen de fé semeado pelo Espírito Santo, com o primeiro anúncio do
Evangelho, e transmitido eficazmente pelo Baptismo.” Notar logo aquele
"de todas as idades".
Seria interessante seguir o Papa que toca
os demais aspecto da catequese com aquela sua linguagem "totalizante"
que sempre é um convite para uma entrega pessoal a Jesus cada vez mais
realizada; mas nos limitamos aqui ao que diz respeito à catequese permanente ou
contínua, quer dizer que nunca acaba.
No n. 25 fala da necessidade duma
catequese em senso lato, quer dizer não estritamente ligada a assuntos a
desenvolver numa caminhada de iniciação ou de crescimento. É o tal diálogo e
partilha em cima da vida da comunidade, a qual busca um caminho e constrói uma identidade,
em ligação com os acontecimentos da Igreja a nível local e mundial.
Falando dos destinatários da catequese, no
n. 43 menciona os adultos. Eis as suas palavras:
"Prosseguindo a série dos
destinatários da catequese, não posso deixar de realçar aqui um dos cuidados
dos Padres do Sínodo, requerido com vigor e urgência pelas experiências que se
estão a fazer no mundo inteiro: trata-se do problema crucial da catequese dos adultos. É a principal forma de
catequese, porque se dirige a pessoas que têm as maiores responsabilidades
e capacidade para viverem a mensagem cristã na sua forma plenamente
desenvolvida (90).
Efectivamente,
a comunidade cristã, nunca poderá pôr em prática uma catequese permanente sem a
participação directa e experimentada dos adultos, quer sejam eles os
destinatários quer os promotores da actividade catequética. O mundo em que os
jovens são chamados a viver e testemunhar a fé, que a catequese intenta
aprofundar e consolidar neles, é um mundo governado pelos adultos; a fé destes,
portanto, tem de ser continuamente esclarecida, estimulada e renovada, a fim de
impregnar as realidades temporais desse mundo por que eles são os responsáveis.
Assim, para ser eficaz, a catequese tem de ser
permanente; seria em vão, quase pela certa, se parasse no começo da
maturidade, uma vez que ela se demonstra não menos necessária para adultos,
embora sob outra forma, obviamente.
No n. 53 o Papa abre uma nova via para a catequese, uma nova
finalidade que exige uma acção coral de toda a comunidade, principalmente dos
adultos e, pela primeira vez num documento da Igreja, aparece a palavra
"Inculturação". Eis o que diz:
" Passo agora a
tocar outro problema. Como tive ocasião de dizer recentemente aos membros da
Comissão Bíblica, «O termo 'aculturação', ou 'inculturação', apesar de ser um
neologismo, exprime muito bem uma das componentes do grande mistério da
Encarnação» (94). Podemos dizer da catequese, como da evangelização em geral,
que ela é chamada a levar a força do Evangelho ao coração da cultura e das
culturas. Para isso, a catequese tem de procurar conhecer essas culturas e suas componentes essenciais; apreender as
suas expressões mais significativas; saber também respeitar os seus valores e
riquezas próprias. É deste modo que poderá propor a essas culturas o
conhecimento do mistério escondido (95) e ajudá-las a fazer surgir da sua
própria tradição viva expressões originais de vida, de celebração e de
pensamento cristãos."
Depois da publicação do Diretório, de
outros documentos das Conferências episcopais, dos Sínodos especiais para África
e outras partes do mudo, nos quais nuca falta uma referência à catequese, houve
a publicação do Catecismo da Igreja Católica a marcar uma etapa importante no
desenvolvimento da Catequese. Por isso se impunha uma actualização do próprio Diretório
Geral da Catequese; o que foi feito a 15 de Agosto de 1997.
É surpreendente como este diretório
atribua grande importância à catequese aos adultos, de que trata principalmente
nos nn. 172 a 176. Até chega a dizer que tal catequese deve servir de modelo e
de referência para as outras catequeses a outras idades e categorias! (Catequese
aos marginalizados, catequese aos presos, etc.) E não aponta limites de idade!
Não há "reforma" para a catequese: até fala na catequese aos anciãos
e, catequese para a terceira idade, a idade da reforma: também para ela é
contemplada uma catequese específica (DESDE 1997!!!). (ver nn.186-188 do Diretório geral")
A este ponto pergunto a mim mesmo: quem
são os conhecedores de sua cultura a não ser os adultos? E então, quem serão os
actores desta inculturação, prolongamento em boa parte da própria catequese? A
catequese, entendida no seu sentido originário de "ressonância", de
"fazer ressoar" o Evangelho anunciado para que se torne sal de todas
as culturas (vejam-se os documentos sucessivos relativos à África)? Não são
primeiramente as crianças nem os jovens, nem sequer os teólogos, mas sim todos
os membros das comunidades.
Por exemplo: uma mãe cristã que ensina
à sua criança a rezar está fazendo um dos primeiros trabalhos de inculturação;
assim também quando lhe explica as razões pelas quais deve ajudar em casa nas várias
ocupações. Para tal deve sempre "refrescar" suas convicções e
informações para transmitir sempre o que ajuda a crescer na fé.
Para não dizer que, como nos lembra Pedro
na sua primeira carta, todos somos chamados a dar as razões da nossa esperança.
Mas, afinal das contas, é o próprio Jesus que nos diz que a
catequese não pode acabar. Nas leituras do tempo Pascal temos o Evangelho de João,
lá onde nos traz os discursos de Jesus na última Ceia. Só uns passos:
"Ainda tenho muitas coisas para
vos dizer, mas agora não podeis com elas. Quando virá o Consolador, o Espírito Santo,
Ele pegará do meu e vo-lo ensinará". E falando da missão do Espírito diz:
Ele vos lembrará o que eu disse (lembrará,
QUER DIZER fará ressoar, dirá outra vez para que vocês oiçam: é mesmo o sentido
de "catequese"); ele vos introduzirá na verdade completa; Ele pegará
no que disse e vos fará entender as coisas qua hão-de vir. Um catequista
perfeito, que falará a quem? Só às crianças? Jesus está falando com adultos, e
adultos que já estão a ser catequisados desde três anos pelo próprio Jesus,
imaginem!
E nós não precisamos de catequese? O
que já ouvimos nos basta?
Parece mesmo que não. E se bastasse até
hoje não bastaria amanhã, por duas razões:
1 A primeira é própria da Revelação
cristã. As palavras de Jesus que lembramos há bocado, juntamente com as que
João escreve nos finais de seu Evangelho são claras. O que diz João?
"Muitos mais sinais miraculosos realizou ainda Jesus na presença de seus
discípulos, que não estão escritos neste livro, Estes porém foram escritos para
acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e acreditando terdes vida
nEle".
Que é como dizer: tudo o que está aí
escrito é Palavra de Deus, refere o que Jesus disse e fez. Mas não é toda a
Palavra de Deus, não é tudo o que Jesus disse e fez que foi escrito: há toda
uma parte que os discípulos viram e podem contar, mais nada disso está aí
escrito.
Um exemplo:
Os nossos irmãos muçulmanos nos dizem
que tudo o que está escrito no seu livro santo, o Alcorão, é palavra de Deus
revelada a Muhammad e que fora deste livro não há mais palavra de Deus.
Nós dizemos que tudo o que há no nosso
livro Santo, a Bíblia, é Palavra de Deus, mas que há outra Palavra de Deus que
não está aí escrita, mas que o Espírito Santo sugere, lembra, explica à Igreja.
E' como se tivermos água a sair duma
torneira:
- para os nossos irmãos muçulmanos a
água viva da Palavra de Deus vem duma só torneira, representada pelo livro
santo, o Alcorão;
- para nós as torneiras são duas: a
do livro santo, escrita na Bíblia e que lemos e interpretamos com a ajuda
do Espírito Santo na igreja e a da tradição, contada na Igreja, a que o
Espírito Santo lembra, explica, actualiza através de Sínodos e Concílios, dos
Bispos unidos ao Papa.
Foi esta que ressoou como resposta a
heresias e a outros erros ao longo da história e que está condensada no
"CREDO". Esta torneira nunca para de dar água e é a que alimenta a fé
da Igreja e a catequese, que a este ponto não pode não ser contínua, permanente.
Ou será que decidimos fechar a torneira
e dizer a Deus que por favor se cale?
Deus nos livre!
E então, meus irmãos, vejam a maneira
de organizar a catequese permanente se é que não têm nas suas paróquias! E
façam-no já! Obrigado.
pe
Zé Fumagalli
P.S. Uma sugestão? Peguem no Catecismo
da Igreja Católica e procurem percorrer as suas quatro partes. Isso vai levar pelo
menos oito anos, inserindo ao longo do percurso os outros programas solicitados
ou propostos a nível de Igreja universal ou de Igreja local (Documentos do
Papa, dos Bispos; Anos especiais, como o da Eucaristia, eventualmente um ano da
Família, etc.)
Depois de oito ou mais anos não haveria
dificuldade em recomeçar outro ciclo. Seria garantida a integridade da
catequese como também a sua fidelidade objectiva, sendo tal Catecismo expressão
da vontade do próprio Pontífice. (cf. nn. 119-136 do Directório Geral para a Catequese
de 15.08.1997).
Bom trabalho, meus irmãos, e deixem a
fantasia trabalhar!
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