A caminho do Sínodo
Perfis de cristãos exemplares
P. José Fumagalli
No passado 29 de Abril deste ano o Senhor veio visitar-nos outra vez. A
Ziguinchor, no vizinho Senegal, faleceu Ana Assimatorue de Jihunk, a viúva de
Basikuai, falecido em 2005, de que já vos falei. A morte do marido não
conseguiu desanimá-la. Até pelo contrário: redobrou de empenhamento, como se
quisesse testemunhar ainda por todos os dois. Um casal de pessoas humildes,
como já vos disse falando em Basikuai, mas que encontrou em Jesus e no seu
caminho uma dimensão inesperada.
Sobrara só ela, batizada na sua tabanca, Jihunk, onde, mesmo depois de cerca
de vinte anos de catequese mais ou menos continuada ainda não consegui preparar
mais de dois casais para o Batismo. Um dos dois casais desandou um bocado, a
seguir o homem morreu e a mulher deixou-se reabsorver pela tabanca.
Não foi o mesmo no caso de Basikuai e Ana pois não. Ana continuou a
frequentar assiduamente a comunidade vizinha, a de Ejin. Uma participação
sentida e ativa na catequese e na Missa, enriquecendo a oração com suas
intenções na oração do povo; sempre vivas e propostas com simplicidade e com
profunda convicção.
Chegou a doença. Não estava bem, mas no domingo fazia os seus quatro
quilómetros abundantes na areia para vir à Missa. Nunca faltava até o dia em
que as forças começaram a minguar e ela já não podia andar onde e como queria.
fui ter com ela. Quis que lhe levasse a Comunhão e quando ia era uma festa.
Estava sozinha em casa: os filhos tinha-os colocado todos em Ziguinchor em casa
de parentes dela ou de Basikuai. Na frente
da sua casa estava a cruz, que colocámos quando fizemos a Via Sacra
solene: ela não pôde acompanhar a oração toda, mas quis que a comunidade
parasse também diante da sua casa a rezar, "porque era a casa duma família
cristã".
Decidimos levar a Ana a Ziguinchor em casa dum irmão para se tratar melhor.
Fui eu a Jihunk para a trazer. Parei o carro mesmo diante da porta, perto da
cruz. Ana levanta, reúne as poucas coisas que constituem a sua bagagem, junta
umas galinhas que lhe serão úteis mas não se decide a entrar no carro. Hesita. Olha
em redor. Depois olha para a casa. Levanta a cabeça e olha em direção da
tabanca e além; a seguir olha outra vez para sua casa. Diz: "Esta casa,
esta casa!...". Digo-lhe: "Compreendo. Sei o que queres dizer: é a
única casa cristã de toda a tabanca, a lanterna que a ilumina, como costumas dizer."
"Sim,
diz ela, e agora? Eu vou-me embora..."
"Vais voltar, digo-lhe eu, vais voltar e continuarás a fazer luz para
que outros encontrem o caminho de Jesus". Olha para mim, murmura "E'
o que Basikuai queria" e os olhos velam-se de lágrimas.
Entra no carro. Enquanto vamos digo-lhe: "Quando estarás em Ziguinchor
irás te tratar, rezarás para que a tua casa continue a ser sinal e luz, nem que
por enquanto deva ficar vazia".
Volvido um mês voltei a Jihunk com a Ana Assimatorue. Mas foi para o
enterro dela.
É verdade a Jihunk não temos grandes números, pelo contrário estamos ainda
no ponto de partida.
Mas eu não tenho dúvida nenhuma em afirmar que Basikuai e Ana são testemunhas
autênticas.
Talvez não subirão aos altares, mas são na verdade dois santos, dos mais
simples e humildes, mas santos, que o Espírito fez desabrochar como humildes
flores do campo numa tabanca que por enquanto é um verdadeiro deserto.
Talvez seja precisa outra vintena de anos antes de conseguirmos ver algo
naquela tabanca. Ou talvez não, porque Basikuai e Ana sem dúvida vão nos dar
uma mão para ajudar, disso tenho a certeza. Vocês não estão de
acordo?
Suzana, 30 de Maio de 2008
Sem comentários:
Enviar um comentário