quarta-feira, 12 de outubro de 2016

ANA ASSIMATORUE



A caminho do Sínodo
Perfis de cristãos exemplares 

P. José Fumagalli

No passado 29 de Abril deste ano o Senhor veio visitar-nos outra vez. A Ziguinchor, no vizinho Senegal, faleceu Ana Assimatorue de Jihunk, a viúva de Basikuai, falecido em 2005, de que já vos falei. A morte do marido não conseguiu desanimá-la. Até pelo contrário: redobrou de empenhamento, como se quisesse testemunhar ainda por todos os dois. Um casal de pessoas humildes, como já vos disse falando em Basikuai, mas que encontrou em Jesus e no seu caminho uma dimensão inesperada.
Sobrara só ela, batizada na sua tabanca, Jihunk, onde, mesmo depois de cerca de vinte anos de catequese mais ou menos continuada ainda não consegui preparar mais de dois casais para o Batismo. Um dos dois casais desandou um bocado, a seguir o homem morreu e a mulher deixou-se reabsorver pela tabanca.
Não foi o mesmo no caso de Basikuai e Ana pois não. Ana continuou a frequentar assiduamente a comunidade vizinha, a de Ejin. Uma participação sentida e ativa na catequese e na Missa, enriquecendo a oração com suas intenções na oração do povo; sempre vivas e propostas com simplicidade e com profunda convicção.
Chegou a doença. Não estava bem, mas no domingo fazia os seus quatro quilómetros abundantes na areia para vir à Missa. Nunca faltava até o dia em que as forças começaram a minguar e ela já não podia andar onde e como queria. fui ter com ela. Quis que lhe levasse a Comunhão e quando ia era uma festa. Estava sozinha em casa: os filhos tinha-os colocado todos em Ziguinchor em casa de parentes dela ou de Basikuai. Na frente  da sua casa estava a cruz, que colocámos quando fizemos a Via Sacra solene: ela não pôde acompanhar a oração toda, mas quis que a comunidade parasse também diante da sua casa a rezar, "porque era a casa duma família cristã".
Decidimos levar a Ana a Ziguinchor em casa dum irmão para se tratar melhor. Fui eu a Jihunk para a trazer. Parei o carro mesmo diante da porta, perto da cruz. Ana levanta, reúne as poucas coisas que constituem a sua bagagem, junta umas galinhas que lhe serão úteis mas não se decide a entrar no carro. Hesita. Olha em redor. Depois olha para a casa. Levanta a cabeça e olha em direção da tabanca e além; a seguir olha outra vez para sua casa. Diz: "Esta casa, esta casa!...". Digo-lhe: "Compreendo. Sei o que queres dizer: é a única casa cristã de toda a tabanca, a lanterna que a ilumina, como costumas dizer." "Sim, diz ela, e agora? Eu vou-me embora..."
"Vais voltar, digo-lhe eu, vais voltar e continuarás a fazer luz para que outros encontrem o caminho de Jesus". Olha para mim, murmura "E' o que Basikuai queria" e os olhos velam-se de lágrimas.
Entra no carro. Enquanto vamos digo-lhe: "Quando estarás em Ziguinchor irás te tratar, rezarás para que a tua casa continue a ser sinal e luz, nem que por enquanto deva ficar vazia".

Volvido um mês voltei a Jihunk com a Ana Assimatorue. Mas foi para o enterro dela.
É verdade a Jihunk não temos grandes números, pelo contrário estamos ainda no ponto de partida.
Mas eu não tenho dúvida nenhuma em afirmar que Basikuai e Ana são testemunhas autênticas.
Talvez não subirão aos altares, mas são na verdade dois santos, dos mais simples e humildes, mas santos, que o Espírito fez desabrochar como humildes flores do campo numa tabanca que por enquanto é um verdadeiro deserto.
Talvez seja precisa outra vintena de anos antes de conseguirmos ver algo naquela tabanca. Ou talvez não, porque Basikuai e Ana sem dúvida vão nos dar uma mão para ajudar, disso tenho a certeza. Vocês não estão de acordo?
  
Suzana, 30 de Maio de  2008

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