Tema de reflexão a caminho do sínodo 2017
Já é de domínio comum que as culturas desmoronaram juntamente com seus valores e suas visões da vida e da sociedade. A qual sociedade, por sua vez, se tornou invivível: e isto não só no que diz respeito ao Ocidente, mas sim a nível mundial, como também na Guiné Bissau.
Precisa-se de uma "sociedade alternativa", fruto de uma
"cultura alternativa" baseada em valores diferentes dos que
suportavam a sociedade precedente.
Costuma-se dizer que um povo, uma sociedade, são forjados através da
"iniciação", processo formativo que transmite e inculca valores, como
também molda as novas gerações conforme padrões herdados pela tradição. Por
isso se fala de "iniciação tradicional".
Se continuarmos a atribuir valor absoluto à iniciação tradicional,
continuaremos a formar gerações no quadro duma cultura e duma sociedade
obsoletas, trabalharemos para a arqueologia e respetivos museus.
O que quer dizer que também no plano natural, da vida das nossas tabancas,
precisamos dum "aggiornamento”
dos conteúdos das iniciações, sendo que a própria vida das nossas tabancas
mudou, nem só em superfície (por exemplo apareceu a escola, a rádio, a
televisão, a maior mobilidade que proporciona contactos mais alargados dos que
havia antigamente, etc.).
Se considerarmos agora as mudanças profundas de perspetivas e de padrões de
vida (viver como filhos de Deus, numa vida NOVA...) que o Evangelho nos traz,
devemos também recorrer a alguma iniciação que nos prepare a uma vida a esse
nível. Será capaz uma iniciação concebida pelo homem de se elevar a tal nível?
O que Jesus diz a Nicodemos faz pensar: “Se não renascerdes de novo (e do
alto) não entrareis (nem vislumbrareis...) o Reino de Deus. ... o que é da
terra é da terra, o que vem do alto, é do alto..." (cfr Jo 3).
E então? Acho que são horas de nos darmos conta de que Deus, através da
Igreja (não é por acaso que é chamada "Povo de Deus"!) nos oferece
uma verdadeira iniciação, que não fica limitada ao título (Ritual da Iniciação Cristã dos Adultos), ma sim oferece um
verdadeiro caminho de Iniciação, uma verdadeira iniciação à vida, a uma cultura
cristã e a uma sociedade fundada em valores novos que até ultrapassam o puro
horizonte humano; caminhada aliás em que Ele próprio intervém através dos
Sacramentos. Se assim for, a assumiríamos como capaz de forjar uma cultura e
uma sociedade novas, diferentes alternativas.
NB. Nesta perspetiva da fundação de uma sociedade nova, alternativa,
deveria ser inserido também o que se refere à escola, à pública instrução e à
presença nela da ação da Igreja.
Assumiríamos umas CATEGORIAS culturais da tradição, como pontos de
referência ou molduras em que inserir conteúdos novos.
Ex. 1. O que constituía
o Povo Hebreu era a categoria da Aliança, era o Povo da Aliança. Jesus guarda a
categoria da Aliança, mas lhe dá um significado novo: à aliança proclamada no
Sinai, com o sangue dos cordeiros e as leis escritas na pedra substitui a Nova
Aliança no seu sangue, o do Cordeiro de Deus e o dom do Espírito, a nova Lei
escrita nos corações.
Ex. 2. O fariseu
Saulo: para ele a Lei de Moisés, a Torá é tudo, mas quando se apercebe que o
lugar da Tora é tomado por Cristo, já não fala mais em Torá, mas a sua lei é
Cristo! E é a partir de Cristo que lê toda a história, a sua pessoal, a do Povo
Hebreu e de todo o mundo e resgata as figuras mais significativas dos antepassados
(ex. a figura de Abraão em Rom. 4).
NB. Pelo menos deveríamos chegar a estabelecer um ponto de partida e uma
metodologia comuns para enfrentar e discutir este problema inadiável na vida
das nossas comunidades cristãs!
Como deveria ser este ponto de partida? Espero comentários. Se aparecerem,
avanço com a minha reflexão. Obrigado.
Pe
Zé Fumagalli
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